Introdução

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Certificação e sustentabilidade ambiental

As políticas ambientais ainda são apresentadas com um viés predominantemente qualitativo, omitindo indicadores que quantifiquem a realidade a ser transformada e metas para alcançar objetivos. Vem se tornando quase uma conduta padrão nas declarações das Conferências das Partes o recurso às subjetividades do fraseado, em prejuízo de compromissos ou formas para cumpri-los.

A Rio+20 saiu das manchetes para entrar na história. Deixou talvez um exemplo de mobilização dado pela sociedade civil e seus múltiplos grupos de representação. Do lado governamental, a herança foi menos exemplar. Chefes de Estado, apoiando-se na competência de seus diplomatas, preferiram a busca de consenso, um novo nome para adiamento. Em lugar das métricas de sustentabilidade, a retórica inspirou na Cúpula do Rio a declaração final, sofridamente redigida. É sempre difícil aplacar as frustrações.
Neste embate entre métricas verificáveis e jogos de palavras, a sociedade organizada vem escolhendo sempre o caminho da quantificação nas propostas. Orienta-se por indicadores, não por exortações. Os procedimentos que gera são muitas vezes imperfeitos, carecem de revisão ou novas metodologias, mas inegavelmente produzem eficácia maior que os discursos repetitivos.

Uma leitura crítica e objetiva de informações dispersas em relatórios, livros, sítios digitais e outros meios de comunicação, revelou um cenário com as mais diversas métricas geradas em organizações sociais e adotadas por empresas em vários países. Todas relacionadas com o ambientalismo, um dos maiores legados éticos do século XX. Aqui, nos limites de uma introdução, busca-se atestar a consistência visível em tais indicadores, mas igualmente contribuir para o seu aperfeiçoamento, pois há notórias falhas a corrigir.

Em contraponto ao apego da governança de Estado pelo artifício da eloquência nas questões ambientais, a sociedade civil vem tentando formas verificáveis de controle nesta área. O leitor encontrará, nas páginas que se seguem, seis estudos numa direção de concretude, elaborados por pós-graduandos na disciplina Estratégias Empresariais e Mudanças Climáticas, ministradas pela FEA/USP durante o ano letivo de 2012.1 Aqui se comenta os conteúdos que foram escolhidos para esta publicação: “A Certificação FSC”; “ISO 14001 e a Sustentabilidade”; “Global Reporting Initiative – GRI”; “ISE – Índice de Sustentabilidade Empresarial”; “Análise dos Indicadores Ethos” e o “CDP-Carbon Disclosure Project”.

O FSC, selo garantidor da origem florestal de madeiras nos mercados interno e externo, é administrado pela Forest Stewardship Council, uma organização não governamental focada na correta gestão das florestas do planeta, as quais, infelizmente, já ocupam o terceiro lugar entre os emissores mundiais de efeito estufa. Em tese, esta certificação garante que os produtos florestais à venda originaram-se de fontes responsavelmente geridas e que a checagem dos antecedentes foi feita em todas as respectivas cadeias de produção.
A inabilidade governamental, em todos os países, para lidar com queimadas e desmatamentos, provocou a criação desta poderosa ONG nos Estados Unidos, em 1993. Foi uma consequência indireta das repercussões de matéria sobre degradação florestal publicada no The New York Times. A reportagem ocasionou a estruturação da Rainforest Alliance, que arregimentou milhares de associados e contribuiu, decisivamente, para o lançamento do FSC anos depois, vindo a ser a primeira certificadora acreditada pela nova organização. Vê-se, neste detalhe histórico, como se podem articular a imprensa livre e os movimentos sociais para suprir falhas da conduta dos Estados no enfrentamento dos danos ambientais.
Não quer isto dizer, evidentemente, que as medidas da gestão privada sejam infalíveis ou acima de quaisquer ressalvas, pontos levantados mais adiante, com o destaque necessário. Antes, porém, fixemos as dimensões do mercado potencial do FSC e de outras organizações de perfil assemelhado, e também não governamentais.

Somente o Brasil tem 477 milhões de hectares de floresta natural e 5,98 milhões de hectares em florestas plantadas, empregando em sua cadeia produtiva cerca de 9 milhões de pessoas. Para lidar com esta imensa fonte de produtos, o FSC é o segundo maior sistema de certificação do mundo, secundando o Programa para Reconhecimento dos Estoques de Certificação Florestal (PEFC, na sigla em inglês), que se volta para o apoio e melhoria de sistemas nacionais de certificação, como é o caso do Cerflor do INMETRO no Brasil. Mundialmente, o FSC contabiliza 152 milhões de hectares certificados contra 243 milhões com PEFC. Além destes dois, o ISO 14001 também opera na área florestal.

O ambiente de negócios altamente comprometido pela ilegalidade desafia constantemente, na Amazônia, o padrão de excelência perseguido pelo FSC, cuja seriedade é proclamada por ONGs respeitáveis. Permanecem na região, apesar dos esforços em contrário, os métodos para burlar controles. Basta dizer que todo o Estado do Pará dispõe de apenas três agentes para averiguar crimes ambientais. Mesmo lidando com estas dificuldades, o selo mantém bons critérios e, após a certificação, há uma visita da certificadora responsável. A cada cinco anos faz-se um novo e completo processo de avaliação para a renovação do selo.

Não faltam críticas ao modelo adotado pelo FSC e a sua falta de agilidade para sanar os erros apontados. Um certificado em Sumatra foi denunciado, evidenciou as falhas, mas a investigação do caso consumiu quatro anos de trabalho. Outro exemplo de burocracia excessiva é uma revisão interna, iniciada em 2009, e com desfecho previsto para 2014. A máquina estatal, como se vê, não está sozinha em lentidão para averiguar.

Os desvios apurados por Aline Ishikawa mostram que no ano 2000 a organização confiou a especialistas a tarefa de investigar alguns certificados. O resultado foi preocupante e indicou problemas sistêmicos, dentro do FSC, ocasionando certificações indevidas. A certificadora mantinha uma relação discutível com madeireiras interessadas em certificações, mesmo contrariando as normas vigentes. O selo “Fontes Mistas” é severamente criticado por servir, mesmo a revelia do FSC, como “um mecanismo de lavagem da madeira ilegal”. Entretanto, apesar das deficiências verificadas, “o selo geralmente garante que o produto atende a uma série de exigências ambientais, sociais e econômicas que não existiam antes da certificação”.
O trabalho acadêmico é completado por um estudo de caso sobre a primeira grande empresa de determinado setor a obter certificado de manejo florestal, em 1998. Atualmente mantém como certificadas pelo FSC todas as suas unidades florestais. Está claramente satisfeita com os benefícios obtidos, mas sugere que haja solicitação de “mais informações quantitativas de desempenho para divulgar no resumo público”, indicando a eficiência da certificada em consumo de energia, água e outros insumos de sua produção.

Outro importante aferidor da eficiência na gestão ambiental das empresas, o ISO 14001, é objeto de análise no trabalho de Ana Carolina Riekstein. A norma vem sendo crescentemente adotada pelo setor privado. Já foram expedidos, em todo o mundo, cerca de 250 mil certificados, atestando que as empresas estudadas conseguiram montar um sistema de gestão ambiental conforme as suas prescrições. São benefícios principais das ferramentas previstas no ISO 14001 a redução do uso de energia, matérias primas e lixos.

A origem deste certificado ISO está na Rio 92, quando se formou um grupo voltado para fundamentação de procedimentos de gestão ambiental nas indústrias. O respectivo comitê surgiu no ano seguinte. Em 1993, esta norma ISO foi anunciada e publicada. Seis passos precedem a obtenção do certificado: desenvolver uma política ambiental; identificar as atividades que possuam interação com o meio ambiente; verificar requisitos legais e regulatórios; demonstrar prioridades da empresa e seus objetivos para redução de impacto ambiental; ajustar a estrutura organizacional para tais objetivos, realizando treinamentos, devidamente comunicados e documentados; e checar, para eventual correção, o sistema de gestão ambiental.
A certificação é obtida após a auditoria realizada por agências credenciadas no INMETRO e o primeiro prazo de validade estende-se por três anos, renovada mediante verificação. O ISO 14001 pode ser decisivo para trazer vantagens competitivas, principalmente no caso de concorrências no exterior. No Brasil, esta certificação vem ampliando consideravelmente o seu espaço. Em 2010 o nosso país destacava-se entre os dez com maior aumento na obtenção destes instrumentos, chegando ao número de quatro mil, um recorde na América Latina.
O estudo aqui comentado elegeu, para avaliação de uso, três corporações certificadas no território brasileiro. A nossa petroleira estatal, uma importante mineradora que ocupa o segundo lugar no ranking mundial do setor e a maior indústria nacional de tecnologia da informação. Na petroleira, que faz parte da história do Brasil moderno, a quase totalidade das unidades nacionais e no exterior está certificada nos padrões estabelecidos pela norma ISO. De todos os fornecedores a empresa exige igual certificação. Em seu plano geral de negócios e estratégia corporativa figura, como diretriz principal, a tarefa de “conhecer, prevenir e mitigar os impactos ambientais”. Em parte graças a isso a empresa está bem próxima de superar os bons índices da indústria global do ramo.

Na mineradora, atuante em mais 38 países e notoriamente a maior empresa privada latino-americana, todas as jazidas estão certificadas, o mesmo acontecendo com o total de ferro exportado. Foi ela a primeira companhia do setor em todo o mundo a obter uma unidade certificada pelo ISO 14001. O cumprimento de metas ambientais é uma variável considerada nos aumentos periódicos de salários.

Detalhado estudo de caso contempla, no trabalho de Ana Carolina, uma empresa 100% brasileira no ramo de tecnologia de informação. O setor foi escolhido em função de sua potencialidade como emissor de gases de efeito estufa. O Instituto Gardner, conhecido pela expertise em pesquisa, apontou as práticas de TIC como responsáveis, em média, por 2% das emissões globais de GEE, podendo crescer para 6% até 2020. Na Alemanha, França e Japão, chega a alcançar o índice de 10%. Cerca de 70% de todo o lixo tóxico nos Estados Unidos vêm do lixo eletrônico. Os países do BRICs, excluída a África do Sul, representam uma grande ameaça: Brasil, Rússia, Índia e China terão juntos, até 2015, 775 milhões de novos computadores.

Essa empresa brasileira de TI também possui certificado ISO 9001, além de produzir Relatório de Sustentabilidade nos termos do Global Reporting Initiative (GRI) no nível A de aplicação. Mantém Sistema de Gestão Ambiental desde 2001 e foi a primeira empresa brasileira do setor a obter a certificação.

Sobre a eficiência do ISO 14001, sugere-se a incorporação de mecanismos obrigatórios de divulgação de resultados para que sociedade e governo possam monitorar o desempenho ambiental das empresas certificadas. Também se observou que o mecanismo de certificação em análise, talvez devido aos seus custos elevados, ainda não é acessível às pequenas empresas.

Guerino Antonio Tonin e Sérgio Rossi Madruga ocupam-se mais adiante do Global Reporting Initiative, comumente designado Relatório de Sustentabilidade. Focam a sua conceituação, forma e conteúdo, aliando igualmente, com grande objetividade, aspectos dos procedimentos que requerem melhorias e correções.

Trata-se, como se sabe, de um documento autodeclaratório, periódico e circunstanciado, para medição da eficácia das políticas ambientais desenvolvidas por uma corporação. Foi concebido nos Estados Unidos, em 1997, pelas organizações filiadas à Coalizão para Economias Ambientalmente Responsáveis e pelo Instituto Tellus. No ano de 2002 o GRI já era uma instituição independente, sem fins lucrativos, estabelecida em Amsterdam.

A partir de 2006 construiu várias alianças e lançou a estrutura dos Relatórios. Em março de 2011 foram divulgadas as diretrizes do G3.1, consideradas as mais completas e que permanecem em vigor. Elas fixam os indicadores para formulação dos Relatórios de Sustentabilidade, com base em diálogos de uma rede de milhares de especialistas em todo o mundo. Atualmente, cerca de 1.500 organizações aderiram a esta prática, incluindo 70 empresas brasileiras.

As diretrizes abrangem seis aspectos na estruturação do documento. Definição de conteúdo, os princípios que devem orientar a qualidade das informações relatadas, seus limites, a estratégia e o perfil organizacional, as formas de gestão adotadas e indicadores econômicos, sociais e ambientais de desempenho. O ciclo de periodicidade anual para divulgação é o mais frequente e o GRI recomenda o uso de verificação externa. São aceitas para este fim empresas de auditoria, com destaque para as quatro maiores: Ernst &Young, Deloitte, KPMG e PwC. O GRI é apontado como um dos mais sofisticados e completos instrumentos disponíveis para balanços sociais no mundo corporativo.

O texto aqui publicado revela substanciais e positivas mudanças na corporação brasileira estudada, um dos maiores bancos privados do país. Está consignado que “as iniciativas carecem de quantificação para efetiva análise dos impactos dessas questões no balanço da empresa”.

Tonin e Madruga desenvolvem uma consistente avaliação crítica dos Relatórios GRI. As falhas que existem devem ser sanadas na elaboração das próximas versões das diretrizes e também pelas empresas que as adotam. Foi percebida uma excessiva concentração nos indicadores sociais, que ocupam mais da metade do conteúdo. As informações econômico-financeiras de modo geral são insuficientes, o que dificulta o procedimento dos tomadores de decisões nesta área.

Foi também notada a falta de exigências mais explícitas para que as empresas meçam adequadamente suas práticas ambientais antes de reportá-las. Observou-se que não há meios para verificações que demonstrem conexão entre o relato e as ações efetivas. O benchmarking é também prejudicado pela ausência de uniformidade na apresentação dos indicadores por várias empresas. As tabelas numéricas obedecem a um padrão, mas os dados qualitativos encontram-se dispersos ao longo do texto, e isso inviabiliza comparações.
Há excesso de fotografias que privilegiam informações genéricas. São raras as empresas que fazem autocrítica. Os relatórios fixam-se exclusivamente nos resultados positivos, jamais nas dificuldades encontradas para atingi-los. Isto se deve à busca ostensiva de benefícios para imagem da empresa, que escolhe, ela mesma, os destaques. Uma solução para este enviesamento seria a mobilização de stakeholders externos, para escolher os dados mais significativos e monitorar sua evolução. Neste sentido, cabe o registro das normas éticas para apelos de sustentabilidade na publicidade, divulgadas em junho de 2011 pelo CONAR – Comissão Nacional de Autorregulamentação Publicitária.

Os defeitos do GRI ora ressaltados, embora pareçam muitos quando referidos em grupo, não anulam os méritos do Relatório em si, principalmente no que diz respeito ao engajamento das empresas em políticas de sustentabilidade – o que já é muito quando se sabe do quase absoluto desinteresse por tais questões, em décadas passadas, no meio corporativo.
Segue-se, no conteúdo aqui disponível para consulta, um ensaio de Reynaldo Schirmer Peçanha, tendo por objeto de análise o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), instrumento criado pela BM&F BOVESPA, que agrupa empresas incluídas entre as 200 com ações de maior liquidez e documentadas práticas sustentáveis.

O ISE ainda não atraiu investidores numa proporção que o habilite como um sucesso. Vem conquistando pouco a pouco o seu espaço e depende, naturalmente, da evolução no aprendizado do público alvo a respeito de iniciativas empresariais sustentáveis. Há também, freando a sua expansão, certa complexidade na formação da carteira, baseada em dados apresentados pelas próprias empresas e sem qualquer verificação externa.

Fundos desta natureza existem nos Estados Unidos desde 1980 e já movimentam um volume superior a três trilhões de dólares no mercado de capitais. Segundo o Dow Jones Sustainability Index, o seu desempenho superou em 15% a performance dos fundos vistos como tradicionais. No Brasil, vem operando a partir de 2011, por iniciativa do sistema financeiro. Calcula-se que o investimento socialmente responsável em nosso país atingiu, em 2012, o montando de R$ 742 milhões, com um incremento da ordem de 55,34% em relação a 2006.

Atualmente, esta carteira especial da BM&F BOVESPA, já em sua sétima edição reúne 38 empresas. Está a dois passos do seu limite autoestabelecido, que é o de 40 companhias. Foi verificado que 21% das empresas participantes autorizaram a divulgação dos respectivos questionários, o que é bastante positivo no quesito transparência.

Registre-se, como inovação das diretrizes para recolhimento de dados, a elevação do item Mudanças Climáticas à categoria de dimensão, considerado que há dois anos era somente um indicador entre outros da dimensão Gestão Ambiental.

Para estudo de caso, Peçanha toma como referência uma das maiores empresas do mundo, atuante em nosso país na área de transportes, concessão de rodovias e mobilidade urbana, com o valor de mercado superior a R$ 20 bilhões. São três as prioridades sociais informadas em seu credenciamento: redução de acidentes, de emissões de CO2 e de resíduos. Um projeto que se destaca nas atividades da companhia é o uso de asfalto ecológico e manufaturado a partir de pneus usados. Em cerca de 17% da malha viária sob sua responsabilidade em São Paulo já foi aplicado esse “asfalto borracha”, como é conhecido. Outra qualificação sustentável do grupo é haver publicado, em 2010, o seu inventário de emissão de GEE.

Executivos da empresa, respondendo ao pesquisador, relativizaram, com grande propriedade, a tese de que o ISE reforça a sua imagem institucional e a de seus produtos. Disseram eles nas entrevistas que a vantagem se dá muito mais no plano interno, ou seja, o ISE atua como um guia de aprimoramento da governança.

Os indicadores Ethos como ferramentas de gestão ambiental foram estudados por Talita Rosolen no trabalho para a disciplina Estratégias Empresariais e Mudanças Climáticas. A análise foi desenvolvida com base em documentos, entrevistas com especialistas e o estudo de caso numa grande empresa.

Estas métricas foram criadas no emblemático ano 2000, quando se renovaram acentuadamente, em todo o mundo, as formas de engajamento da sociedade civil nas práticas de responsabilidade social. Constituem, hoje, instrumentos amplamente adotados por empresas brasileiras e de toda a América Latina. Está em curso um processo de revisão em suas diretrizes para o lançamento, em breve, de sua terceira geração.

Estamos tratando, neste caso, de procedimentos originários da Agenda 21, elaborada na Rio 92, visando assegurar maior eficiência na mensuração e monitoramento das iniciativas sustentáveis no campo empresarial. Implantado, em 1998, o Instituto Ethos de Responsabilidade Social vem alargando bastante os espaços de discussão e apresentação de propostas efetivas nesta linha. Dois anos após sua criação, a entidade projetou e lançou os indicadores aqui comentados. Foram usados em sua última versão por cerca de 550 empresas respondentes aos questionários. Buscam elementos que instruam uma avaliação do estágio em que se encontram as políticas ambientais das corporações interessadas. As informações obtidas são sigilosas e não auditadas.

A partir de 2007 foi franqueado o preenchimento eletrônico das informações a serem processadas por um sistema que encaminha à empresa um relatório comparando-as com a média de um banco de dados composto por empresas que obtiveram as dez melhores notas. Um importante avanço foi a possibilidade de atendimento às micros e pequenas empresas no processo de avaliação, mediante convênio com o Sebrae.

É facultada às empresas a contratação de um facilitador para ajudá-las a realizar todo o processo com recursos internos. O Instituto Ethos disponibiliza, quando necessário, programas de capacitação para que profissionais das empresas tratem do preenchimento.

A terceira geração dos indicadores Ethos, a ser lançada em abril de 2013, encontra-se em fase de construção. Espera-se que seja uma oportunidade para a correção de várias imperfeições detectadas, como a falta de documentos comprobatórios ou evidências que sustentem as informações dadas pelas empresas.

Estes indicadores são de uso gratuito, sem custos para preenchimento dos questionários e recebimento do relatório on-line. Só há cobrança de despesas com uso de consultoria e facilitação do processo. É importante assinalar que mesmo o cumprimento de todas as etapas é insuficiente para visualizar, em sua totalidade, o estágio em que se encontra cada usuário. Tornam-se necessárias providências concretas, dentro das corporações, para garantir a efetividade dos procedimentos descritos no relatório. Em outras palavras, o comprometimento final é uma responsabilidade que cabe às empresas.

Consideremos, por último, neste estudo que encerra a amostra de interpretações, o Carbon Disclosure Project-CDP. Esta certificação tem sua força e sua fragilidade abordadas, em texto conciso, porém certeiro, de José Rafael Motta Neto. O CDP vem conquistando o respeito mundial de grandes investidores, além das comunidades acadêmicas e governamentais. Alguns analistas independentes afirmam, porém, que o instrumento ganharia mais credibilidade se incorporasse um sistema de auditoria externa, o que ainda não acontece. Isto daria maior substância e efetividade à premissa que orienta as diretrizes gerais do CDP. Uma premissa bastante motivadora em sua forma: “o que pode ser medido pode ser gerenciado”.
Por ocasião da Rio+20 o CDP anunciou uma fusão com a Global Canopy Program (CGP), ampliando seu foco para as florestas e reforçando a difusão dos seus informes ambientais. Os seus investidores, institucionais ou signatários, representam US$ 78 trilhões em ativos.
Expostos aqui, de forma sumária, os instrumentos de informação mais conhecidos no âmbito da gestão ambiental corporativa, cabe perguntar se é justo fomentar comparações, nesta matéria, entre as ações do governo e da sociedade civil. Entendemos que a resposta é um sim, com ênfase, pois a sustentabilidade constitui dever a repartir-se por igual entre todos para com todos. Difícil estabelecer fronteiras que separem, no caso, agentes públicos e privados.
A nenhuma esfera pode ser atribuída infalibilidade em suas métricas. Foram descritas as falhas mais visíveis nos indicadores em uso pelas empresas. Isto certamente não os invalida, mas exigem um aprimoramento que, por via de consequência, assegure maior credibilidade às informações.

Já vimos linhas atrás, a frase de um executivo, segundo a qual as métricas na empresa em que trabalha geraram mais vantagens internas, por otimizarem a eficiência, do que externas, por beneficiarem sua imagem no mercado. Em outras palavras, o Brasil ganha muito mais com empresas eficientes do que com empresas simpáticas. O oportuno comentário dele segue a mesma linha do argumento usado por John F. Kennedy sobre os deveres de uma sociedade para com a nação. Sim, ao empresário, antes de tomar decisões, não cabe perguntar o que deve a sustentabilidade fazer por determinados produtos vendidos por ele, mas o que a sua empresa deve fazer para a sustentabilidade ambiental no país que os compra.

Muito se tem falado sobre a transição do atual modelo de produção e consumo para uma economia de baixo carbono. Neste processo, constituem variáveis determinantes, entre outras, os certificados aqui examinados, as cotas internacionais de mitigação de GEE assumidas pelos signatários do Protocolo de Kyoto e o compromisso exitoso do governo brasileiro no combate ao desmatamento. Tais fatores requerem não apenas merecido aplauso, mas o contraponto da crítica independente e construtiva.

Neste quesito, ainda não saímos inteiramente das incertas veredas da utopia. Distantes léguas nos separam de uma sinergia entre as forças do ambientalismo nas empresas, mídia, governos, academias e movimentos sociais. É inegável, porém, que estas forças existem e atuam, apesar de seus equívocos, entre os quais avulta o de supor a iminência de uma “economia verde”. Este modelo ideal por enquanto está no território das longínquas possibilidades. Para abreviar sua chegada ao cotidiano das nações do mundo será preciso fixar objetivos muito claros e adotar métricas verificáveis e continuamente aperfeiçoadas.

ISO14001 e a sustentabilidade. A eficácia do instrumento no alcance do desenvolvimento sustentável

Resumo

A norma ISO 14001 estabelece um sistema de gestão ambiental (SGA) e, apesar de críticas, sua adoção tem aumentado – já existem mais de 250 mil certificados no mundo. Neste trabalho, são citados exemplos de grandes empresas que possuem a certificação, sendo detalhado o exemplo de uma companhia do ramo de Tecnologia da Informação, setor que tem ganhado importância quando o assunto é emissão de gases de efeito estufa e resíduos. A empresa é certificada ISO 14001 e tem a sustentabilidade como princípio de gestão. Foi possível concluir que utilizar corretamente a ISO 14001 é um importante passo para o desenvolvimento sustentável ao permitir o estabelecimento de um SGA, ao auxiliar no cumprimento de legislações ambientais, entre outros.

Palavras chave: ISO 14000, Gestão Ambiental, Sustentabilidade.

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1. INTRODUÇÃO

A família de normas ISO 14000 trata de gerenciamento ambiental, indicando às empresas o que devem fazer para minimizar os impactos ambientais de suas atividades e melhorar continuamente seu desempenho ambiental (ISO, s.d.). A família contempla as seguintes normas:

  • ISO 14001: trata dos principais requisitos para as empresas identificarem, controlarem e monitorarem seus aspectos ambientais, através de um sistema de gestão ambiental (MILAGRE, 2008);
  • ISO 14004: complementa a ISO 14001 provendo diretrizes adicionais para implantação de um sistema de gestão ambiental;
  • ISO 14031: guia para avaliação de desempenho ambiental;
  • ISO 14020: conjunto de normas que tratam de selos ambientais;
  • ISO 14040: conjunto de normas para conduzir análises de ciclo de vida de produtos e serviços;
  • ISO 14064: contabilização e verificação de emissões de gases de efeito estufa para suportar projetos de redução de emissões;
  • ISO 14065: complementa a ISO 14064 especificando os requisitos para certificar ou reconhecer instituições que farão validação ou verificação da norma ISO 14064 ou outras especificações importantes;
  • ISO 14063: trata de comunicação ambiental por parte das empresas (ISO, s.d.).

Além destas, já existem outras normas em desenvolvimento:

  • ISO 14045: requisitos para análises de eco-eficiência;
  • ISO 14051: norma para MFCA – Material Flow Cost Accounting, ou em tradução literal, contabilidade de custos dos fluxos de materiais, uma ferramenta de gerenciamento que busca maximizar a utilização de recursos, principalmente em manufatura e processos de distribuição;
  • ISO 14067: norma para pegada de carbono em produtos, tratando de requisitos para contabilização e comunicação de emissões de gases de efeito estufa associados a produtos;
  • ISO 14069: guia para as empresas calcularem a pegada de carbono em seus produtos, serviços e cadeia de fornecimento;
  • ISO 14005: guia para a implementação em fases de um sistema de gestão ambiental para facilitar sua adoção por pequenas e médias empresas;
  • ISO 14006: norma para “ecodesign”;
  • ISO 14033: diretrizes e exemplos para compilar e comunicar informações ambientais quantitativas;
  • ISO 14066: requisitos para as empresas que farão a validação e a verificação de emissões de gases de efeito estufa.

Todas as ferramentas são desenvolvidas de forma a permitir seu uso conjunto e têm
como benefícios de adoção a redução do uso de matérias-primas e de energia, processos
mais eficientes, redução de lixo e de custos de descarte e utilização de recursos renováveis.
Associados a estes benefícios econômicos, existem também os benefícios ambientais –
esta é a contribuição da família ISO 14000 para a sustentabilidade e para o conceito do
Tripple Botton Line. Além da ISO 14000, outras normas ISO relacionam-se ao conceito do
Tripple Bottom Line: ISO 26000, sobre responsabilidade social empresarial, ISO 50001, para
gerenciamento de energia, entre outras (ISO, s.d)

De acordo com Pombo e Magrini (2008), as normas da série ISO 14000 podem ser
divididas em dois grupos: normas orientadas a processos e normas orientadas a produtos,
conforme ilustra a figura 1.

 

Figura 1
Figura 1

 

Nesta pesquisa, o foco será dado à norma ISO 14001, que tem sido o instrumento mais utilizado para desenvolver a gestão ambiental em empresas industriais e a única norma “certificável” da família ISO 14000. Busca-se verificar a eficácia do instrumento no alcance do desenvolvimento sustentável, com a seguinte pergunta de pesquisa: “como a implementação da ISO 14001 auxilia no desenvolvimento sustentável da empresa?”.

Para responder à pergunta, foram estudadas as duas maiores empresas brasileiras em valor de mercado segundo a Forbes: Petrobrás e Vale, além de um estudo mais aprofundado em uma empresa de TI, a Itautec, dada a importância que o setor vem ganhando quando o assunto é emissão de gases de efeito estufa e lixo eletrônico.

Em 2007, o Instituto Gartner2 identificou que as tecnologias da informação e comunicação (TIC) são responsáveis, em média, por 2% do total de emissões de gases de efeito estufa no mundo, com estimativa de crescimento de 6% ao ano até 2020 (GESI, 2010). Em alguns casos, a contribuição do setor é ainda maior, como é o caso de Alemanha, França e Japão, onde corresponde a 10% (BOLLA et al., 2011). Outra preocupação relacionada ao setor refere-se à quantidade de lixo eletrônico, que vem aumentando significativamente. Nos EUA, 2% de todo o lixo é eletrônico (em volume). Porém, 70% de todo o lixo tóxico vem do lixo eletrônico, que cresce três vezes mais que o lixo comum. De acordo com estudo da Forrester Research, Brasil, Rússia, Índia e China terão mais de 775 milhões de novos computadores até 2015, com a China indo de 55 milhões em 2007 para 500 milhões em 2015 (CETESB, 2009). Desta forma, a preocupação com o setor, mesmo considerado de médio impacto ambiental, tem crescido nos últimos anos.

As próximas seções estão organizadas da seguinte forma: a seção 2 descreve a norma ISO 14001, desde sua origem até a sua relação com a sustentabilidade; a seção 3 trata da utilização da norma e descreve três exemplos de empresas que utilizam, detalhando a utilização em uma empresa de TI; a seção 4 trata de uma análise crítica da norma e a seção 5 trata das considerações finais do estudo.

2. Revisão bibliográfica

Esta seção descreve a norma ISO 14001, sua origem, o que verifica, como os dados para a certificação são obtidos e como o desempenho da empresa é divulgado, como é realizada a comprovação, verificação externa e/ou auditoria para certificação e como a norma se encaixa dentro do contexto maior da sustentabilidade.

2.1 Origem do Instrumento

Todas as preocupações ambientais que têm ganhado importância nos últimos anos levaram a um crescente número de solicitações a institutos normativos para a criação de um padrão para gerenciar os impactos ambientais de uma organização. O British Standards Institute (BSI), um respeitado instituto normativo, juntamente com outras partes interessadas, desenvolveu a BS 7750:1992 (“Specification for Environmental Management Systems”), o primeiro padrão ambiental do mundo. Outros padrões nacionais existiram em diversos países e a demanda por uma certificação internacional começou a crescer (WHITELAW, 2004). Durante a Rio-92 foi proposta a criação de um grupo para estudar a elaboração de uma norma internacional de gestão ambiental. Em março de 1993, a ISO estabeleceu o Comitê Técnico 207 para desenvolver a série de normas internacionais de gestão ambiental ISO 14000 (ABNT, s.d).

A norma ISO 14001 foi desenvolvida com base na norma BS 7750 e publicada em setembro de 1996. A norma provê um modelo básico de estabelecimento de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA), um conjunto de processos de gerenciamento que requer das empresas a identificação, a mensuração e o controle de seus impactos ambientais (BANSAL; HUNTER, 2003) no meio ambiente em que operam, incluindo aspectos relacionados a ar, água, solo, flora, fauna e seres humanos.

2.2 O que o Instrumento verifica

A norma NBR ISO 14001 verifica o SGA da empresa e é baseada no ciclo PDCA (Plan, Do, Check e Act). A associação do método PDCA com a norma NBR ISO 14001, segundo Matthews (2003), se dá a partir dos seguintes processos/atividades:

  1. Planejar: definição da política ambiental, impactos ambientais e metas ambientais;
  2. Executar: implementação do SGA e documentação, treinamento;
  3. Verificar: auditorias ambientais e avaliação de desempenho ambiental e
  4. Agir: ações de melhoria contínua.

Seis passos devem ser cumpridos para a obtenção do certificado:

  1. Desenvolver uma política ambiental;
  2. Identificar as atividades da empresa, produtos e serviços que possuam interação com o meio ambiente;
  3. Identificar requisitos legais e regulatórios;
  4. Identificar as prioridades da empresa e definir objetivos e metas de redução de impacto ambiental;
  5. Ajustar a estrutura organizacional da empresa para atingir estes objetivos, atribuindo responsabilidades, realizando treinamentos, comunicando e documentando;
  6. Checar e corrigir o SGA.

A norma estabelece os requisitos para um SGA, sem definir o que se deve fazer exatamente, de forma que as empresas podem desenvolver suas próprias soluções (OLIVEIRA; SERRA, 2010).

O Quadro 1 detalha a estrutura da norma.

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Quadro 1 – Estrutura na norma ISO 14001. Fonte: GESTÃO AMBIENTAL, 2005.

A norma ISO 14001 foi formulada de forma alinhada à norma ISO 9001, facilitando a integração entre o sistema de gestão ambiental e o sistema de gestão da qualidade (CICCO, 2006).

2.3 Obtenção de Dados e Divulgação do Desempenho

Os dados para a certificação ISO 14001 são obtidos em auditoria externa, mas a norma pode ser utilizada para autoavaliação, para avaliação por clientes ou por organizações externas, sem necessariamente certificar a empresa-alvo da avaliação. Internamente, de acordo com a norma, a empresa deve realizar auditorias do SGA em intervalos planejados, verificando se ele é mantido corretamente. Estas auditorias devem ser sistemáticas e independentes.

As empresas que utilizam a norma devem decidir se comunicarão ou não seus resultados externamente. Se resolver comunicar, a empresa deve pré-estabelecer como o fará. As empresas podem divulgar seus resultados em seus relatórios anuais financeiros ou de sustentabilidade, bem como em seus endereços na Internet. Também é possível consultar listas de empresas certificadas na página do INMETRO, mas nem todas as empresas certificadas já constam desta base de dados (INMETRO, s.d).

2.4 Comprovação, Verificação Externa e/ou Auditoria

A certificação ISO 140001 é obtida através de uma auditoria realizada dentro da empresa candidata à certificação por entidades credenciadas pelo Inmetro. A auditoria é um processo de investigação que verifica se o SGA estabelecido atende aos preceitos listados na norma. O certificado é válido por três anos.

Quando a empresa está se certificando pela primeira vez, a auditoria externa realiza as pesquisas e dá à empresa um prazo para corrigir eventuais pendências identificadas. A empresa, corrigindo estas pendências dentro do prazo, recebe o certificado. Dentro de um ano, pode ser realizada uma auditoria de manutenção e se espera que, até a recertificação, a empresa mantenha seu SGA e busque a melhoria contínua, um preceito da norma.

2.5 ISO 14001 e a Sustentabilidade

Já existem estudos que buscaram verificar como a norma ISO 14001 é usada para o desenvolvimento sustentável em empresas. De Vries et al (2012) encontraram evidências de impactos positivos de sua adoção em indicadores ambientais e de negócio. Klassen e McLaughlin (1996) descrevem a relação entre gestão ambiental e rentabilidade da empresa, conforme ilustra a Figura 2. Alberton e Costa Jr. (2007) também encontraram indícios de uma boa relação entre SGA e aumento de rentabilidade na empresa, pois há melhoras em aspectos operacionais pós-certificação. Os autores citam como exemplos de melhorias a redução de desperdícios, o aproveitamento de materiais, a reciclagem e a redução no consumo de energia e água.

Considerando o conceito do Triple Bottom Line, o tripé da sustentabilidade, que leva em conta três aspectos, o econômico, o social e o ambiental, a certificação ISO 14001 tem potencial para trazer ganhos ambientais para a empresa e, consequentemente, ganhos econômicos – reduzir o consumo de água e energia elétrica, por exemplo, reduz os custos. Além disto, a certificação pode trazer vantagens competitivas – empresas fornecedoras podem ganhar concorrências pelo fato de serem certificadas (em alguns casos, possuir a certificação é uma exigência) e possuir o certificado pode auxiliar a empresa a ficar de acordo com as leis (POTOSKI; PRAKASH, 2005). King et al. (2005) relatam que fornecedores que têm clientes distantes, incluindo estrangeiros, tendem a buscar mais a certificação, uma forma de demonstrar esforços de melhoria. A norma não trata, porém, de aspectos sociais diretamente.

Figura 2 - Relação entre Gestão Ambiental e Rentabilidade da Empresa.  Fonte: KLASSEN; MCLAUGHLIN, 1996.
Figura 2 – Relação entre Gestão Ambiental e Rentabilidade da Empresa. Fonte: KLASSEN; MCLAUGHLIN, 1996.

3. Utilização da norma

No mundo, de acordo com a ISO (2010), existem mais de 250 mil certificados, fortemente concentrados na Europa e no leste asiático. No Brasil, a adoção da ISO 14001 vem aumentando continuamente nos últimos anos, indicando amadurecimento das questões ambientais empresariais na direção de uma gestão sustentável (OLIVEIRA; SERRA, 2010). Na última pesquisa realizada pela ISO (2010), o país destaca-se entre os 10 países com maior aumento no número de certificações, conforme ilustra a Tabela 1

Tabela 1- Países com maior crescimento no número de certificações ISO 14001 – 2010. Fonte: ISO, 2010.
Tabela 1- Países com maior crescimento no número de certificações ISO 14001 – 2010.
Fonte: ISO, 2010.

obs.Esta tabela representa apenas os países com maior aumento no número de certificações em 2010.
Os dez países com maior total de certificações em 2010 foram: China, Japão, Espanha, Itália, Reino Unido, Coréia do Sul, Romênia, República Tcheca, Alemanha e Suécia. Em 2009, o mesmo relatório
listava os mesmos sete primeiros colocados, Alemanha em 8º lugar, EUA em 9º e República Tcheca
em 10º.

De acordo com Jucon (2010), o Brasil atingiu em 2010 a marca de 4.000 certificados emitidos, sendo o país com o maior número de certificados emitidos na América Latina, com grande concentração de certificações na região Sudeste, seguida das regiões Sul, Nordeste, Norte e Centro-Oeste (POMBO; MAGRINI, 2008). Ainda segundo o mesmo autor, os setores com maior número de certificações são o de serviços, o automotivo, o de metalurgia e o químico, conforme ilustra a Figura 3. Importante notar que, considerando os impactos ambientais de cada setor estabelecidos na Lei 10.165/2000 (classificação descrita no Anexo I) apenas o de metalurgia e o químico enquadram-se como atividades de alto impacto ambiental, demonstrando que a preocupação ambiental também está muito forte em setores de médio e pequeno impacto.

Figura 3 - Certificações no Brasil por setor. Fonte: JUCON, 2010.
Figura 3 – Certificações no Brasil por setor.
Fonte: JUCON, 2010.

De acordo com Pombo e Magrini (2008), dentre as empresas brasileiras com maior número de certificações estão empresas de diferentes setores, conforme ilustra a Tabela 2. Dentre elas, estão as duas maiores empresas brasileiras em valor de mercado: a Petrobrás e a Vale (FORBES, 2012).

3.1 Petrobras

A Petrobras, empresa brasileira controlada pelo governo brasileiro que atua em exploração e produção, refino, comercialização e transporte de óleo e gás natural, petroquímica, distribuição de derivados, energia elétrica, biocombustíveis e outras fontes renováveis de energia, tem como um de seus valores o comprometimento com o desenvolvimento sustentável. A quase totalidade de suas unidades no Brasil e no exterior certificadas em conformidade com a norma ISO 14001.

A empresa tem como diretriz de seu plano de negócios e parte de sua estratégia corporativa “conhecer, prevenir e mitigar os impactos ambientais” de suas operações e produtos. A gestão ambiental é integrada à gestão dos aspectos de segurança, eficiência energética e saúde – SMES (Segurança, Meio Ambiente, Eficiência Energética e Saúde). A empresa também exige a certificação de seus fornecedores e, inclusive, impede empresas que não estiverem em conformidade de fornecerem seus produtos e serviços.

Quinze diretrizes corporativas estabelecem requisitos a serem atendidos por este sistema de gestão integrado e padrões derivados destas diretrizes são aplicados em todas as atividades da empresa. A aderência aos padrões é verificada periodicamente por auditorias internas. Na empresa, todos os níveis de liderança são responsáveis pela implementação e utilização do sistema de gestão, bem como pelo seu desempenho, em sua área. A empresa atesta em seu relatório de sustentabilidade que o processo integrado de gestão vem trazendo melhorias de desempenho para a empresa, que hoje se aproxima e, em alguns casos, supera os referenciais de excelência da indústria mundial de petróleo (PETROBRAS, s.d; PETROBRAS, 2011).

3.2 Vale

A Vale, empresa brasileira que atua em 38 países, considerada a segunda maior mineradora do mundo e a maior empresa privada da América Latina, tem o desenvolvimento sustentável como parte de sua missão e possui a totalidade do minério de ferro exportado saindo de minas certificadas com ISO 14001 (todas as minas de minério de ferro têm certificação). Foi a primeira companhia de mineração do mundo a ter uma unidade certificada pela ISO 14001, adotando desde 1994 o Sistema de Gestão da Qualidade Ambiental (SGQA) em suas unidades operacionais: minas de ferro, usinas de beneficiamento, unidade de pelotização e porto. O sistema é periodicamente auditado por certificadora externa e, para cada ponto de atenção identificado, é elaborado um plano de ação a ser executado pela respectiva unidade operacional, acompanhado pela área corporativa de meio ambiente.

A empresa entende que o cumprimento das metas ambientais deve refletir-se na remuneração variável dos empregados e, por isto, avalia as diferentes áreas de negócio identificando quanto cada empregado irá receber em função dos níveis de desempenho alcançados coletiva e individualmente em relação a cada unidade operacional. Em 2006, as áreas tiveram como metas a implementação de programas de redução de consumo, reuso e recirculação de água e projetos de minimização da geração de resíduos e a empresa aprimora continuamente seus indicadores ambientais.

Em 2010, a empresa desenvolveu um SGA para atender a empresa como um todo, dividido em quatro estágios: básico, intermediário, avançado e excelência, para garantir o cumprimento da Política de Desenvolvimento Sustentável e das Diretrizes Ambientais. Este novo SGA tem por principais objetivos: garantir a conformidade legal das unidades de negócio, controlar sistematicamente os aspectos ambientais e promover a melhoria contínua do desempenho ambiental (VALE, s.d; VALE, 2011; BRASIL MINERAL, 2004; ISTO É DINHEIRO; 2006).
3.3 Itautec – Estudo de Caso Detalhado

Para verificar em profundidade como a implementação da ISO 14001 pode auxiliar no desenvolvimento sustentável da empresa, foi selecionada uma do setor de Indústria de Material Elétrico, Eletrônico e Comunicações, considerado de médio impacto ambiental, de acordo com a Lei 10.165/2000. Este é um setor que tem crescido significativamente nos últimos anos e que continuará crescendo, sendo responsável, em média, por 2% do total de emissões de gases de efeito estufa no mundo, com estimativa de crescimento de 6% ao ano até 2020 (GESI, 2010). Além das emissões, uma grande preocupação no setor é quanto ao lixo eletrônico – nos EUA, por exemplo, 2% de todo o lixo é eletrônico (em volume) e 70% de todo o lixo tóxico vêm do lixo eletrônico, que cresce três vezes mais que o comum.

A empresa estudada é a Itautec, organização com 32 anos que atua em soluções de automação bancária e comercial, soluções de computação e serviços tecnológicos. A Itautec é uma empresa 100% brasileira e pertence ao grupo Itaúsa, estando presente em diversos países da Europa e da América, sendo a 10ª maior base instalada de caixas eletrônicos (ATM, Automatic Teller Machine) no mundo e a 3ª na América Latina. A empresa possui mais de 5.900 funcionários e receita líquida superior a 1.500 milhões de reais. Mais de 70% da receita líquida de vendas da empresa vêm de soluções de hardware – automação e computadores, levando a empresa a possuir uma forte preocupação com processos produtivos ambientalmente responsáveis e com o correto tratamento de resíduos sólidos, tanto na cadeia de produção, quanto à destinação no final de vida dos equipamentos vendidos.

3.3.1 Sustentabilidade como Princípio de Gestão

A Itautec reconhece a sustentabilidade como um atributo essencial da marca, um de seus valores, zelando pela excelência ambiental tanto em produtos, quanto em processos, importante para competir no mercado e uma tendência muito forte entre empresas e governos. A sustentabilidade ainda não consta da missão e da lista de valores divulgada pela empresa, mas estes itens estão sob revisão após forte reestruturação organizacional. O Código de Ética e Conduta, que serve como referência comportamental para todos os colaboradores da empresa, disponível para consulta no website da empresa, reúne princípios de sustentabilidade empresarial.

A área da empresa responsável por desenvolver os projetos relacionados à sustentabilidade e buscar sempre a melhoria contínua está dentro da Vice-Presidência de Operações. Já houve um comitê de sustentabilidade, mas, com a reestruturação da empresa, a área foi alocada dentro de operações, dado que seu maior escopo de atuação encontra-se nesta área. A alta administração da empresa é comprometida com o tema sustentabilidade, o que ajuda muito na implementação e evolução do SGA e de outras iniciativas relacionadas.

A empresa possui certificações ISO 9001 e ISO 14001 e seu relatório anual de sustentabilidade é elaborado com base nas diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI) nível A de aplicação. A empresa já recebeu prêmios relacionados à sustentabilidade e também participou da criação do CEDIR (Centro de Descarte e Reuso de Resíduos de Informática) da USP, colaborando com sua experiência nos processos e na identificação de empresas recicladoras competentes.

3.3.2 Histórico

Desde a abertura do mercado brasileiro em 1992, as empresas que buscaram competir no mercado mundial passaram a ter que lidar com barreiras não tarifárias, como o nível de qualidade dos produtos. Em 1996, com o surgimento da ISO 14001, mais um aspecto entrou definitivamente para o rol de preocupações das empresas, o ambiental. No final da década de 1990, o governo brasileiro passou a incentivar as certificações e tanto os governos, quanto as grandes empresas, passaram a exigir a certificação ISO 14001 de seus fornecedores, de forma que possuir a certificação passou a ser estratégia de mercado para muitas empresas.

A Itautec traçou, então, um plano de dois anos e de 1,6 milhões de reais de investimento para estabelecer o seu sistema de gestão ambiental. A empresa mantém um SGA desde 2001, certificado em 2003, tendo sido a primeira empresa brasileira do setor a obter a certificação.

A empresa buscou criar um modelo de gestão completo não apenas para obter a certificação, mas para mudar comportamentos. Muitas foram as dificuldades iniciais, dado que, à época, o tema sustentabilidade ainda não era amplamente discutido. No entanto, a equipe responsável logo começou a conseguir demonstrar resultados financeiros positivos com a implementação do SGA, incluindo economias operacionais. Hoje, a Itautec entende que possuir a ISO 14001 já não é mais diferencial competitivo, mas uma obrigação.

3.3.3 Política Ambiental

A política ambiental da Itautec trata de assuntos como legislações, gasto de energia e água, comunicação sobre questões ambientais, conscientização de colaboradores e estabelecimento de metas específicas:

  • “Cumprir a legislação ambiental aplicável, as normas regulamentares e os demais requisitos subscritos pela Organização que se relacionem aos aspectos ambientais”;
  • Prevenir a ocorrência de danos ambientais decorrentes de suas atividades buscando a utilização de tecnologias ambientalmente adequadas no gerenciamento dos processos e na concepção de novos produtos;
  • Estabelecer canais permanentes de comunicação das questões do meio ambiente com as partes interessadas;
  • Criar normas e registrar as ações relativas à conservação do Meio Ambiente, de forma auditável e transparente;
  • Evitar o desperdício de água e energia;
  • Promover o treinamento e conscientização de seus colaboradores internos e externos para atuarem com responsabilidade na conservação do Meio Ambiente e na busca de melhorias contínuas;
  • Estabelecer, revisar e acompanhar, anualmente, os objetivos e metas ambientais específicos de suas atividades. (ITAUTEC, 2010).

A política ambiental gera programas que, por sua vez, geram indicadores e permitem uma análise para melhorar continuamente o SGA, já maduro. A empresa busca fortemente a melhoria contínua e, através de suas auditorias anuais (de manutenção e, a cada três anos, de recertificação), pressiona gestores a estarem conscientes e alinhados ao SGA, utilizando os organismos independentes de auditoria como uma ferramenta para manter toda a organização alinhada.

A empresa possui um programa de engajamento de fornecedores para integrar princípios da sustentabilidade nas relações comerciais. Hoje, ao comprar de determinado fornecedor, a Itautec apresenta-lhe a sua política ambiental e exige que ele não fira esta política. Mas já existe um grande projeto em desenvolvimento (até o final de 2012) envolvendo os principais fornecedores da empresa, em que serão revistas as políticas de compras e em que será desenvolvido um novo processo de auditoria de fornecedores, com base, entre outras normas e modelos, na ISO 14001.

A empresa possui um comitê de auditoria e gestão de riscos responsável, entre outros, por acompanhar as auditorias internas e externas. Abaixo do comitê existe uma estrutura responsável pela auditoria interna, área que trabalha com avaliação da eficácia e adequação de processos, sistemas e controles internos e a integridade e confiabilidade das informações e dos registros, trabalhando de acordo com as recomendações e melhores práticas internacionais do Institute of Internal Auditors (IIA). Esta área de auditoria será a responsável por verificar em campo os fornecedores, principalmente aqueles sobre os quais a empresa possui influência econômica.

A Itautec ainda não conta com indicadores de gestão (metas para executivos) derivados da ISO 14001, mas estes indicadores não-financeiros são um desejo da empresa e já são utilizados por outras empresas do Grupo Itaúsa.
Quanto à comunicação externa, a empresa possui website e email para relacionamento com interessados, divulga seu Relatório Anual e de Sustentabilidade e elabora e disponibiliza guias, como o “Guia do Usuário Consciente de Produtos Eletrônicos”, o “Guia para o Gestor de TI Sustentável” e em breve deve lançar um guia para fornecedores.

3.3.4 Além da ISO 14001

A Itautec realizou Inventário de Emissões de Gases do Efeito Estufa de acordo com as regras do Greenhouse Gas Protocol (GHG Protocol). O primeiro inventário foi feito em 2010 e o de 2011 já teve importantes melhorias, tendo sido auditado pela empresa BSI4. A empresa pretende melhorar principalmente o conteúdo do Escopo 3 de emissões5 e também relacionar este inventário ao SGA.

Entre as 1.800 companhias que respondem ao questionário do Carbon Disclosure Project – Cadeia de Fornecedores, a Itautec foi considerada benchmark, com destaque no quesito transparência no relato das informações.
Em 2011, a Itautec se adequou para atender às diretrizes da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Entre outros temas, a lei normatiza a obrigatoriedade da logística reversa. A Itautec mantém um centro de reciclagem em sua unidade fabril e um minicentro em outra localidade para a coleta de equipamentos após o fim da vida útil, atuando de forma alinhada a seu compromisso com a destinação adequada de seus equipamentos ao final de sua vida útil. É possível verificar no relatório anual a porcentagem de resíduos reciclados do total de resíduos gerados: 92,7%.

Além da certificação dos processos, a empresa também busca melhorias em seus produtos, investindo no desenvolvimento de produtos isentos de substâncias nocivas, energeticamente eficientes e visando minimizar qualquer impacto que seus equipamentos possam ocasionar para a saúde e segurança de seus clientes, colaboradores e meio ambiente. A fabricação de equipamentos segue preceitos ambientais internacionais, como os da diretiva Restriction of Certain Hazardous Substances (RoHS), da Comunidade Europeia, que restringe o uso de substâncias químicas nocivas como chumbo, cádmio, mercúrio e cromo hexavalente, entre outras. Os produtos da linha de computação também são registrados na Electronic Product Environmental Assessment Tool (EPEAT), ferramenta de avaliação ambiental criada pela Agência de Proteção Ambiental Americana (EPA) e pela Organização não Governamental Greener Electronics Council, que avalia 51 critérios ambientais na concepção, produção e no descarte de equipamentos eletroeletrônicos.

Em 2010, a empresa elaborou, em conjunto com uma empresa especializada, um treinamento utilizando por base as normas ISO 14020 (selos ambientais) e ISO 14040 (análises de ciclo de vida de produtos e serviços) e tendo como estudos de caso os próprios equipamentos Itautec, buscando reduzir a quantidade de material utilizada e maior facilidade de desmontagem. A Figura 4 ilustra as ações da empresa em todo o ciclo de vida de seus produtos (ITAUTEC, 2010; ITAUTEC, 2011).

3.3.5 Social

Em todos os locais onde está presente, a empresa busca estabelecer relacionamentos com a sociedade, contratando funcionários do local e promovendo projetos socioambientais. A Itautec é associada a diversas instituições relacionadas a direitos humanos e destina anualmente recursos a ações de caráter socioeducacionais (recursos financeiros e equipamentos). A empresa, de acordo com o seu Código de Ética e Conduta, repudia o trabalho infantil ou escravo. Também incentiva visitas de estudantes às suas unidades e centro de reciclagem e apoia eventos culturais por meio da Lei Rouanet (ITAUTEC, 2010; ITAUTEC, 2011).

3.3.6 Conclusão do Estudo de Caso

A Itautec entende a norma ISO 14001 como um modelo de gestão e não apenas como uma norma, evitando, assim, a conformidade “só no papel”. A empresa reconhece que possuir a ISO 14001 não garante um ótimo desempenho ambiental e que algumas características do processo de certificação podem permitir que empresas se certifiquem sem ter realmente um modelo de gestão ambientalmente responsável, mas a norma seria um excelente modelo dentro de um cenário maior de sustentabilidade para, entre outros, melhorar o conhecimento ambiental, estabelecer um modelo de gestão eficaz e também para mitigar riscos, uma preocupação muito forte no grupo Itaúsa, dado o seu forte componente financeiro. Em um cenário de leis ambientais muito rígidas (350 normas, leis e decretos considerando os âmbitos federal, estadual e municipal), conformidade e gestão de riscos são fatores essenciais e o SGA pode auxiliar e muito neste âmbito.

Figura 4 - Ciclo de vida dos produtos. Fonte: ITAUTEC, 2011
Figura 4 – Ciclo de vida dos produtos.
Fonte: ITAUTEC, 2011

4. Considerações finais

Apesar das críticas à norma descritas na seção anterior, considerando:

  1. Os passos que devem ser cumpridos para a obtenção do certificado (desenvolvimento de uma política ambiental; identificação das atividades da empresa, produtos e serviços que possuam interação com o meio ambiente; identificação dos requisitos legais e regulatórios; identificação das prioridades da empresa e definição de objetivos e metas de redução de impacto ambiental; ajuste da estrutura organizacional da empresa para atingir os objetivos definidos, atribuindo responsabilidades, realizando treinamentos, comunicando e documentando; e checagem e correção do SGA) e o princípio de melhoria contínua constante da norma;
  2. A verificação externa realizada por institutos credenciados pelo INMETRO;
  3. As opiniões de autores da área (DE VRIES et al., 2012; KLASSEN; MCLAUGHLIN, 1996; ALBERTON; COSTA JR., 2007) que relatam que a implementação da ISO 14001 pode auxiliar no desenvolvimento sustentável; e
  4. Exemplos de importantes empresas em que o SGA auxilia no cumprimento de inúmeras legislações ambientais e no gerenciamento de riscos ambientais, reduz gastos operacionais, permite a derivação de indicadores de gestão e até mesmo o cálculo da remuneração variável de colaboradores com base no cumprimento das metas ambientais, é possível responder à pergunta da pesquisa “como a implementação da ISO 14001 auxilia no desenvolvimento sustentável da empresa” – utilizar corretamente a ISO 14001 seria um importante passo para a responsabilidade ambiental e o desenvolvimento sustentável ao permitir o estabelecimento de um SGA, ao auxiliar no cumprimento de legislações ambientais e no gerenciamento de riscos ambientais, ao reduzir gastos operacionais e ao permitir a derivação de indicadores de gestão, entre outros.

É importante notar também que a criação da norma foi importante para o desenvolvimento e manutenção de sistemas de gestão ambiental em empresas de forma padronizada, servindo de base para a readequação em busca do desenvolvimento sustentável de acordo com práticas utilizadas internacionalmente. A empresa que busca esta certificação demonstra preocupação com as causas ambientais e, se corretamente implementada, é importante instrumento para a preservação ambiental e para o desenvolvimento sustentável.

Como melhoria, a norma poderia incorporar mecanismos obrigatórios de divulgação de resultados, sendo instrumento para que os clientes das empresas, governos e, principalmente, a sociedade civil, que hoje não tem acesso às informações da certificação, possam cobrar atitudes ambientalmente responsáveis pelas empresas certificadas, reduzindo até mesmo o risco de a norma ser utilizada apenas para obter uma certificação sem ter um sistema de gestão completo e praticado.

É importante destacar que, de acordo com Grajew (2005), a grande maioria das empresas certificadas em ISO 14001 é de médio ou grande porte, indicando uma dificuldade das pequenas empresas em obter o certificado, talvez devido aos altos custos de implantação de um SGA. Sugere-se, como pesquisas futuras, verificar sistemas de gestão ambiental (certificados ou não) em empresas de pequeno porte, além de levantar quais indicadores de gestão podem ser derivados da norma ISO 14001.

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  • OLIVEIRA, J. A.; SANTOS, S. R. O.; NADAE, J. A ISO 14001 nas indústrias brasileiras: uma análise sobre os benefícios e dificuldades da certificação. In: Congresso Brasileiro de Gestão Ambiental, Bauru/SP, 2010.
  • PETROBRAS Home page Petrobrás, Petróleo Brasileiro S.A. Disponível em: < www.petrobras.com.br>. Acesso em: 15 jun. 2012.
  • PETROBRAS. Relatório Sustentabilidade 2010. 2011. Disponível em: < http://www.petrobras.com.br/rs2010/pt/>. Acesso em: 15 jun. 2012.
  • POMBO, F. R.; MAGRINI, A. Panorama de aplicação da norma ISO 14001 no Brasil. Gestão da Produção, v.15, n.1, p. 1-10, 2008.
  • Potoski, M.; Prakash. A. Green Clubs and Voluntary Governance: ISO 14001 and Firms’ Regulatory Compliance. American Journal of Political Science, 49, p. 235–48. 2005.
  • VALE. Home page Vale. Disponível em: <www.vale.com >. Acesso em: 15 jun. 2012.
  • VALE. Relatório Sustentabilidade 2010. 2011. Disponível em: <http://www.vale.com.br/pt-br/sustentabilidade/relatorio-de-sustentabilidade/paginas/default.aspx>. Acesso em: 15 jun. 2012.
  • WHITELAW, K. ISO 14001 Environmental Systems Handbook. 2ª Edição. Oxford: Elsevier, 2004. 259p.

ANEXO I

Níveis de impacto ambiental dos setores de acordo com a Lei 10.165/2000.

anexo1-1 anexo1-2 anexo1-3

Fonte: MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2000.

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A certificação FSC e sua eficácia no alcance da sustentabilidade da empresa: Um estudo de caso na Klabin

Resumo

O setor florestal é o terceiro maior emissor mundial de gases de efeito estufa. A falta de habilidade dos governos nacionais em lidar com o problema incentivou a criação, em 1993, do Forest StewardshipCouncil (FSC), uma organização não governamental com foco na gestão responsável de florestas. Este estudo tem como objetivos conhecer o FSC e verificar sua eficácia no alcance da sustentabilidade na empresa. A revisão da literatura foi sucedida por uma análise da certificação na Klabin, produtora de papel e madeira. Conclui-se que o FSC promove melhorias dentro de seu escopo de produtos florestais, mas seu impacto não é mensurável e não há foco no combate às mudanças climáticas.

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