Introdução

Os pós-graduandos da disciplina “Estratégias Empresariais e Mudanças Climáticas”, do programa de pós-graduação em Administração FEA/USP, abordam aqui vários casos de tecnologias inovadoras para a sustentabilidade no empreendedorismo privado. Além da descrição de processos, é analisada nos papers a sua viabilidade econômica e eventual utilização em grande escala. Abaixo, resumidamente, os conteúdos apresentados nesta publicação.

Inovações tecnológicas brasileiras capazes de contribuir para a redução das emissões de CO2 dos veículos automotores – O texto de Gleriani Ferreira apresenta um estudo de duas inovações brasileiras, as quais reduzem as emissões de GEE causadas por veículos automotores. São apresentadas duas inovações desenvolvidas por subsidiárias brasileiras de empresas multinacionais. A primeira é a inovação estrutural do virabrequim da ThyssenKrupp, a qual otimiza o contorno da superfície do virabrequim, melhorando sua resistência à fadiga, aumentando sua vida útil e reduzindo o uso de combustível devido ao menor atrito entre suas peças. A segunda inovação é o sistema que elimina o tanque de gasolina em veículos flex-fuel, desenvolvido pela Magneti Marelli do Brasil. A eliminação do tanque de gasolina leva a uma redução no consumo de combustível e, consequentemente, das emissões. A tecnologia já está sendo exportada para os Estados Unidos e Europa.

Smart Grid e potencial de contribuição às mudanças climáticas no Brasil: um estudo da tecnologia Plataforma Hemera – José Guilherme Campos mostra que o setor energético, um dos principais responsáveis pelas emissões de GEE, pode redirecionar o seu desenvolvimento produzindo com maior eficiência. O seu artigo explora tecnologia desenvolvida por uma empresa brasileira, a CAS Tecnologia, relacionada com a eficiência energética e redes inteligentes (Smart Grid), a Plataforma Hemera. Trata-se de um sistema composto de hardware adaptado, sistemas e softwares, o qual utiliza a infraestrutura de telecomunicações para coletar, mensurar, armazenar, processar e transmitir informações sobre os fluxos de energia e consumo. A plataforma é capaz de gerenciar de forma centralizada todas as informações sobre geração, transmissão, distribuição e consumo de eletricidade. De acordo com o presidente da CAS Tecnologia, a Plataforma Hemera tem mostrado ganhos significativos em termos de eficiência energética, revelando uma redução média no consumo de cerca de 20%.

A tecnologia flex na indústria como redutora da emissão de gases de efeito estufa – O ensaio produzido por Matheus da Silva e Ricardo Guimarães analisa uma tecnologia que consiste na adaptação de queimadores industriais, permitindo o uso do etanol como seu combustível. Esta tecnologia foi desenvolvida por uma empresa brasileira, a Gasalcool, e é um exemplo de inovação incremental no contexto de tecnologias para reduzir as emissões de GEE. Muitas indústrias, incluindo aquelas com altos níveis de emissões, usam queimadores industriais para gerar calor. O principal benefício do produto Gasalcool é uma redução de 25% nas emissões de CO2, de mais de 50% nas de NO/NOx. Além disso, tem a vantagem de substituir um combustível fóssil por uma fonte renovável de energia.

A aplicação da tecnologia multicombustível no transporte aéreo – Este artigo de Daniela Stump discute a aplicação da tecnologia SPS (Software Flexfuel Sensor) em motores de aviões a pistão. Esta tecnologia foi desenvolvida e patenteada pela subsidiária brasileira da Magneti Marelli. A iniciativa tem parceria com uma agência do Ministério da Defesa brasileiro. A inovação incremental tem o potencial de reduzir as emissões de dióxido de carbono pela aviação geral, como a tecnologia SFS já tornou possível para veículos flex. De acordo com dados preliminares fornecidos pela Magneti Marelli do Brasil, o uso do etanol em aviões reduz as emissões de CO2 durante a decolagem em cerca de 38%, e de 63% quando em velocidade de cruzeiro, comparativamente a aviões que usam gasolina.

Inovação tecnológica no setor de aterros sanitários: O caso do evaporador de percolado (chorume) com a queima de biogás – Flávia Pileggi estuda o Evaporador de Percolado EVC-1.900, da empresa BTS, que viablizou a queima direta de biogás, para maximizar a evaporação do chorume com eficiência térmica. Utilizando como combustível o próprio biogás produzido no aterro, o evaporador permite simultaneamente a queima do metano e a otimização da capacidade das lagoas de tratamento de percolado (chorume). Instalado sobre uma carreta rebaixada, o evaporador bombeia para dentro de um tanque o percolado estocado nas lagoas de tratamento do aterro. A seguir o líquido é aquecido e evapora, a uma razão de até 1 m³/h. O processo de aquecimento utiliza como combustível o próprio biogás gerado no aterro, que é canalizado e queimado dentro do evaporador. O objetivo da tecnologia é utilizar o biogás que antes era emitido para a atmosfera, com alta concentração de metano, um dos gases causadores do efeito estufa, para promover a evaporação do percolado.

Uma transição para a métrica

Estes documentos demonstram, em boa parte, uma promissora tendência em trabalhos acadêmicos e, de modo geral, nos estudos que apresentam a sustentabilidade como eixo temático. Vem acontecendo, neste segmento do saber, e deveria acontecer com maior celeridade, uma bem-vinda transição da retórica, útil mas insuficiente, para as métricas verificáveis de sustentabilidade.
Talvez o ponto de partida para estas novas formas de abordagem esteja no sempre lembrado relatório de Nicholas Stern, que lucidamente insistiu na prevalência do fazer sobre o sonhar e quantificou, no caso das mudanças climáticas, os graves prejuízos da inércia. Mas a questão não se esgota no mero uso de cálculos para demonstrar situações de fato. Na administração de políticas sustentáveis, sejam públicas ou privadas, é preciso lidar mais rigorosamente com as informações. O Conselho da Segurança da ONU pediu recentemente ao secretário-geral Ban Ki-Moon, que todos os relatórios sobre o clima, no âmbito da Organização, incluam projeções confiáveis sobre os impactos causados pelo aquecimento global.
Também no universo dos negócios aprofunda-se a noção de responsabilidade com uso de informações aos consumidores quando se anuncia determinados produtos e mesmo a imagem de uma corporação. Prevalece hoje no meio corporativo mundial uma grande resistência às lacunas informativas na transmissão de dados à sociedade. O IIRC (International Integrated Reporting Committee), a poderosa câmara de lideranças empresariais e da sociedade civil, elegeu os seguintes princípios básicos do uso de indicadores em qualquer documento: relevância e verificação; acessibilidade às informações; compreensão e clareza; e comparabilidade e consistência.
No mundo inteiro a questão emerge com força e apresenta, em alguns casos, desvios de conduta. Há uma expressão em inglês, greenwashing, usada para designar empresas que tentam lavar a imagem anunciando práticas “sustentáveis”, que mascaram ações contra o meio ambiente. É comum, nestes casos, o financiamento de ONGs superficialmente envolvidas em atividades ecológicas, enquanto a empresa apoiadora mantém atividades de largo e negativo impacto ambiental.
Caracteriza-se aí o marketing encobrindo a gestão antissocial. No Canadá, uma agência de marketing ambiental, TerraChoice, publicou relatório enumerando aos mais graves pecados de greenwashing, todos apontando para a propaganda enganosa e a falta de transparência na gestão que se alegava sustentável. A agência recomenda precauções do consumidor contra empresas que utilizam indevidamente o tema do ambientalismo no lançamento de produtos. Esta cautela deve ser observada no Brasil. Se, por exemplo, tratarmos da Amazônia, cabe perguntarmos, seguindo os conselhos da TerraChoice: “De acordo, estes produtos provêm de uma colheita floresta sustentável, mas quais são os impactos de sua manufatura e transporte? Será que o fabricante procurou reduzir esses impactos?”

Normas do CONAR

No Brasil, em agosto de 2011, o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (CONAR) anunciou princípios indeclináveis na veiculação de anúncios: Veracidade – as informações ambientais devem ser verdadeiras e passíveis de verificação e comprovação; Exatidão – as informações ambientais devem ser exatas e precisas, não cabendo informações genéricas e vagas; Pertinência – as informações ambientais veiculadas devem ter relação com os processos de produção e comercialização dos produtos e serviços anunciados; Relevância – o benefício ambiental salientado deverá ser significativo em termos do impacto total do produto e do serviço sobre o meio ambiente, em todo seu ciclo de vida, ou seja, na sua produção, uso e descarte.
A informação não circula apenas nos anúncios. Ela está presente, e até com maior fartura, nos estudos e documentos, inclusive os oficiais. Métricas não verificáveis ocupam grandes espaços e a principal razão para isso é a precariedade de indicadores ambientais. No Brasil tal quadro exige uma reversão urgente. Nosso país admitiu, na COP-10 em Buenos Aires, que o seu primeiro Inventário de Emissões Antrópicas de Gases de Efeito Estufa continha algumas imprecisões nos indicadores registrados. Aliás, este grau de transparência foi um dos méritos do documento.

O Guia de Boas Práticas na Elaboração de Inventários do IPCC (IPCC, 2000) reconhece que a incerteza das estimativas não pode ser totalmente eliminada e que o objetivo principal deve ser o de produzir estimativas que não sejam nem subestimadas nem sobreestimadas (estimativas acuradas), buscando, ao mesmo tempo e na medida do possível, aumentar a precisão das estimativas.
Seguindo essas recomendações, na geração das estimativas apresentadas neste Inventário, buscou-se assegurar que elas fossem não tendenciosas (sem viés). Para algumas atividades esse objetivo não pode ser totalmente alcançado, seja pela impossibilidade de estimar valores para alguns subsetores, seja pela inadequação de parâmetros default utilizados na ausência de valores apropriados às condições nacionais.
[…] A precisão das estimativas variou dependendo das características de cada setor, dos dados disponíveis e dos recursos que puderam ser investidos na determinação de fatores de emissão mais adequados às circunstâncias brasileiras. Nesse sentido, ênfase foi dada aos setores mais relevantes em termos de emissões de gases de efeito estufa.

Estatísticas ambientais

Sérgio Besserman, ex-presidente do IBGE, onde lançou importantes publicações em torno do tema, produziu um estudo focando a precária situação das estatísticas ambientais, mesmo em centros mais desenvolvidos. Isto se dá, explicou ele, porque na maior parte do século XX os governos privilegiaram outras áreas de interesse. Neste espaço de tempo, as estatísticas demográficas evoluíram significativamente, o mesmo acontecendo com as estatísticas econômicas, em razão da proeminência dessas questões no período. Já o debate sobre sustentabilidade emergiu nos primórdios dos anos 1970 e somente na década seguinte ganhou relevância estratégica. Trata-se de um tema bem mais novo na agenda global.
Explicam-se, portanto, em boa parte, os desencontros e contradições que freqüentemente encontramos nas informações relativas ao meio ambiente. Besserman registra que o Brasil dispõe de qualidade estatística, mas na dimensão ambiental ainda vive as mesmas carências de outros países. Ele ressalva os bons serviços do IBGE e reconhece o mérito do Ministério da Ciência e Tecnologia na elaboração do Inventário Brasileiro de Emissão de Gases de Efeito Estufa. Faz-se necessário, porém, que todos os governos destinem recursos para ampliar essa área, que hoje adquire importância equivalente a dos estudos econômicos e demográficos. É aberta uma exceção para o trabalho do IPCC que montou um sistema capaz de produzir inventários de boa qualidade para além dos países desenvolvidos.
O Brasil deve, portanto, aparelhar-se para montagem de um abrangente banco de dados ambientais, em condições de atender às demandas do governo, da academia, da mídia e, principalmente, da sociedade. No longo prazo, faz-se necessário pensar numa estrutura maior, a partir do modelo IBGE e outros organismos internacionais de referência.
No plano mundial, vemos as representações institucionais da pesquisa, como o IPCC, atuando com equilíbrio para normatizar as formas possíveis de mensuração de resultados no enfrentamento do aquecimento global. Diferentemente do que acontece na rua da ciência, as regras não primam pela razoabilidade na rua das finanças. Ali quase tudo se calcula em fórmulas nebulosas e atrapalhadas. O erro de US$ 2 trilhões nas projeções da dívida pública americana, cometido pela agência Standard & Poor’s, foi por ela reconhecido, mas com a desculpa de que o foco do rebaixamento da nota dos Estados Unidos era a instabilidade política, e não o montante da dívida.
O cálculo errado, denunciado pelo governo americano, foi rapidamente apagado na lousa. A agência de risco declarou-se, da noite para o dia, especialista na avaliação de crises políticas, um domínio que imaginávamos não constar de seu portfólio. O exemplo mostra apenas que o exercício da medição precisa cumprir-se com extremo rigor técnico, em linha com a importância da questão avaliada.

A inovação no Brasil

A métrica é um compromisso público, a inovação uma ferramenta para cumpri-lo. Em complementaridade, elas otimizam a eficiência e a imagem da empresa, legitimando a sua apresentação ao mercado como agente da sustentabilidade.
Em 2011, no Global Inovation Index, da INSEAD, que compara 125 países do mundo, o Brasil avançou 21 posições, passando, neste quesito, da 68ª para a 47ª posição. O ranking demonstra que a inovação tornou-se prioridade global em seis economias européias, duas asiáticas e duas norte-americanas no TOP 10. Se considerarmos a América Latina, ocupamos o terceiro lugar, ligeiramente abaixo do Chile (36) e da Costa Rica (45). Este ranking, organizado por uma das maiores escolas de negócio do mundo, foi realizado em parceria com a Organização Mundial de Propriedade Industrial (OMPI), agência especializada das Nações Unidas.
É importante notar que a posição brasileira sobe em meio a turbulências de grande monta na economia mundial. O ranking da INSEAD pode servir como ferramenta de benchmarking e para incentivar a cooperação público-privada em nosso país, tendo a inovação como questão central. Lembremos que é hora de considerar o surgimento da inovação de terceira geração, ou seja, aquela que integra e relaciona todas as políticas públicas, e não apenas moderniza o setor privado. Na esfera governamental é necessário encontrar formas ágeis de compartilhar resultados inovadores entre as diversas áreas de atuação; e na esfera empresarial, buscar uma articulação permanente da inovação com a sustentabilidade e com o empreendedorismo.
A adoção nas empresas de políticas de sustentabilidade faz parte de uma estratégia moderna e deve levar em conta seis parâmetros na fabricação de qualquer produto. A produção sustentável de um caminhão, de um eletrodoméstico ou de uma resma de papel terá que mostrar qual foi a redução do consumo de energia por unidade produzida, o corte nas emissões de gases-estufa, a diminuição no consumo de água e a redução de dejetos. A unidade se refere a uma unidade de produção de uma empresa, ou seja, um produto. Também há relação com a evolução do Produto Interno Bruto (PIB) de um Estado ou país. Os outros dois indicadores são o aumento do número de patentes e o aumento da cobertura florestal.
Para que o Brasil possa influenciar a agenda ambiental mundial ele deverá dar um salto na inovação tecnológica. O fato de ter cobertura vegetal e riquezas naturais não vai nos garantir ser um país importante neste século, se não tivermos um diferencial significativo na inovação tecnológica. Nesse quesito, a despeito de recentes avanços, o Brasil vem perdendo para a China e a Índia.
Atualmente, o uso de indicadores sustentáveis é voluntário e as empresas escolhem o que querem divulgar em seus balanços. Essa tendência mudará. As novas regras do CONAR levarão toda empresa que se gabar de ser sustentável em suas peças publicitárias a provar quais os diferenciais que as tornam verdes.
O ambiente para inovação não depende apenas de governantes que adotem medidas periódicas de estímulo ao setor privado, nem de empresários com um perfil modernizador. Sem estabelecermos o peso de cada um dos fatores, recordemos aqueles os principais mencionados em vários estudos pertinentes. A lista é extensa, mas cabe reproduzi-la: Proteção da propriedade intelectual; estabilidade política do país; ambiente de regulamentação; quadro institucional; estabilidade macro-econômica; abertura ao investimento estrangeiro; regime fiscal; flexibilidade do mercado de trabalho inclusive na contratação de estrangeiros; abertura para influência de outras culturas; atitude proativa com relação ao avanço da ciência e acesso a financiamento dos investimentos.
Vários fatores podem tornar ainda mais favorável e estimulante o ambiente para a inovação no Brasil em prol da sustentabilidade. Podemos filtrá-los nas seguintes direções:
Adotar métricas de sustentabilidade claramente fixadas e que assegurem sua rigorosa verificação a todos os investidores, em especial aqueles que se beneficiem de recursos públicos
Valorizar nos currículos das escolas técnicas e das faculdades de engenharias os processos de inovação que almejam o desenvolvimento de produtos e processos redutores de GEE
Aprimorar os processos de registro de patentes no Brasil e elevar as compensações aos pesquisadores e inventores que obtém o registro de patentes para processos e produtos redutores de GEE.

A métrica do desenvolvimento

Outras formas de mensuração do desempenho das nações também vêm sendo experimentadas. Quando se trata de refletir sobre o futuro global, vemos que esses novos exercícios relativizam o peso do Produto Interno Bruto na caracterização do desenvolvimento. E podemos considerá-los cada vez mais orientadores na complexa leitura do nosso tempo.
Um conhecido ranking da revista The Economist mede o progresso de países pelo seu grau de inovação. É um dos conteúdos mais interessantes sobre a matéria, já divulgados naquele veículo. Tomemos, para breve comentário, suas projeções relativas ao ano de 2013. Japão, Suíça, Estados Unidos, Suécia e Finlândia permaneceram na liderança, mas a partir do universo abrangente daquele estudo, chamou a atenção o desempenho das nações emergentes, entre as quais o Brasil. O levantamento fornece tabelas com base em dados sobre patentes internacionais, insumos, resultados e ambiente favorável a projetos nesta linha.
Apesar de o Brasil ter melhorado sua colocação nas previsões para 2009/2013, em comparação ao período anterior, a China aumenta bem mais fortemente o desempenho, em contraste, sobretudo, com a pequena melhoria da Índia. O país comunista beneficia-se do ímpeto de sua expressão econômica, esforço concertado para melhoria da base tecnológica e investimentos em P&D muito superiores aos demais emergentes.
Cabe lembrar, igualmente, a edição regular do Academic Ranking of World Universities, que reflete o interesse dos chineses em conhecer as instituições capazes de receber seus estudantes e inspirar avanços internos do ensino superior. Foi neste processo que a liderança daquele país decidiu investir, nos próximos dez anos, expressivos recursos adicionais nas Universidades de Peking e Tsinghua.
A China já é líder mundial no número de pessoas engajadas em ciência e tecnologia. Em 2005 representava 6% do número de artigos científicos publicados no mundo (1,6% em 1995), e agora é o quinto país na mesma escala. Os seus egressos do ensino superior formados em cursos de ciências e engenharia representam 40% do total, o que representa quase o dobro da média da OCDE, e muito acima dos 15% registrados nos Estados Unidos. Grande parte do investimento direto na China dirige-se a segmentos inovadores da indústria. Exige-se das empresas estrangeiras ali instaladas que montem laboratórios de pesquisa no país.

Um ranking ambiental

Se no ranking de avanço tecnológico aquele país asiático distinguiu-se notavelmente e situa-se bem à frente do Brasil, em outro estudo, focado na sustentabilidade ambiental invertem-se as posições. Tratemos aqui do Environmental Performance Index (EPI) – Rankings & Scores, da Yale University, coordenado pelo professor Daniel Esty.
O EPI identifica metas de performance ambiental amplamente aceitas e medidas relativas a proximidade de cada país com relação a cada uma destas metas. Como um indicador quantitativo de controle da poluição e de identificação de resultados da gestão dos recursos naturais, o índice fornece uma poderosa ferramenta para a melhoria das políticas sustentáveis e de aprimoramento da tomada de decisões com base em fundamentos analíticos mais sólidos.
A métrica do desenvolvimento, que ainda tem no PIB a sua referência decisiva, é também questionada pela Comissão Stiglitz-Sen, assim chamada porque tem à frente dois ganhadores do Prêmio Nobel, Joseph Stiglitz (2001) e Amartya Sen (1998). A “Commission on the Measurement of Economic Performance and Social Progress” está revendo cálculos e parâmetros na avaliação das contabilidades nacionais. Busca um indicador que transcenda o PIB atual, não restrito aos números da produção, mas considerando igualmente o êxito de políticas públicas.
Além de participar ativamente da Cúpula das Américas em abril do próximo ano e das reuniões do G-20, o Brasil sediará, no mês de junho de 2012, a Conferência Rio+20. Os três eventos são oportunidades para que o nosso país ingresse na vanguarda geopolítica dos temas ambientais. Na reunião do Rio de Janeiro a economia verde poderá se inserir no plano mais amplo da sustentabilidade e da erradicação da pobreza extrema. Supõe-se que haverá tempo suficiente para que este novo projeto social do governo brasileiro, ao qual não faltam métricas explícitas, venha a ser detalhado aos olhos de observadores estrangeiros e suscitem apoios não cogitados.

Cenários demográficos

Métrica não específica da sustentabilidade ambiental, mas presente nela e às vezes decisiva em todos os desafios contemporâneos, a demografia é a grande bússola para medir o futuro. Em 2011, o mundo chegou aos sete bilhões de habitantes. Para o final do século, vários cálculos, inclusive o que aponta redução populacional, estão circulando nos estudos pertinentes.
A Organização das Nações Unidas adotou o critério de trabalhar com a hipótese média, 10 bilhões de habitantes em 2100. Para isso considerou um viés de alta que levaria o mundo à cifra explosiva de 15,8 bilhões de moradores, e um viés de baixa reduzindo o ritmo de queda populacional em todos os continentes (exceto a África). Este último, situando-se no patamar de 6,2 bilhões de indivíduos, seria inferior ao que atingimos no ano em curso. A média estimada pela ONU impõe todas as precauções lícitas, que incluem itens diversos, entre estes o controle da natalidade e a educação. Avultam, ainda, os esforços para garantir segurança alimentar e abastecimento de água às multidões vindouras.
Todos os estudos defendem o encolhimento da população do mundo em que viverão os beneficiários das nossas preocupações ou as vítimas da nossa irresponsabilidade. E não basta simplesmente que se usem preservativos ou se estabeleça obrigatoriedade dos métodos contraceptivos. Embora o Brasil, nos últimos dez anos, tenha baixado a taxa de fecundidade, só em 2040 a população local vai efetivamente diminuir. Um especialista brasileiro em estudos populacionais, George Martine, deixou nos jornais uma advertência que serve de premissa para a adoção de métricas demográficas: “Planejamento familiar não tem efeito retroativo. Cerca de 80% do crescimento populacional projetado é inercial. Mesmo que a taxa de fecundidade caia abruptamente em todos os países, a população continuará crescendo por um bom tempo e temos que discutir como nos adaptar a essa nova realidade.”

Conclusão

Quando se trata de fixar objetivos em projetos sustentáveis, a métrica não é aposta e muito menos declaração de intenções. Deve relacionar-se, nestes casos, a todas as variáveis que cercam o projeto. Depois, para medir os resultados, ela incorpora os mesmos fundamentos utilizados para fixá-las. A transparência deve ser um procedimento indeclinável. O mesmo se dá na composição e caracterização informativa de um produto.
O desatrelamento entre crescimento econômico e uso dos recursos naturais é precondição para um futuro sustentável. Neste quadro, certas regras tácitas que priorizam o curto prazo, embora comuns e até seculares na rotina dos negócios, perdem completamente o sentido na verdadeira economia verde. Vive-se, finalmente, a transição entre a retórica documental e a métrica. A sustentabilidade percorreu longo caminho até ganhar uma nova identidade. Não é lícito anular esta conquista.

Referências Bibliográficas

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  • Economist Intelligence Unit Report. Ranking of the World’s most Innovative Countries, abril, 2009. Disponível em: http://graphics.eiu.com/PDF/Innovation_Complete.pdf
  • Environmental Performance Index (EPI). Ranking & Scores. Yale University, 2010. Disponível em: http://epi.yale.edu.
  • GÓIS, Antônio. Muvuca planetária. Folha de S. Paulo, Ilustríssima, pgs. 4/5, 14 ago. 2011.
  • MARCOVITCH, Jacques. 2006. Para Mudar o Futuro – Mudanças Climáticas, políticas públicas e estratégias empresariais. Edusp/Saraiva.
  • World Economic Fórum: http://www.weforum.org/ documents/gcr0809/index.html