Estudo de Caso: Grupo Orsa

Resumo

Os desafios colocados pelo aumento das emissões de gases de efeito estufa (GEE), o aquecimento global e outros temas relacionados às mudanças climáticas, evidenciam a urgência da tomada de ações mitigadoras em nível mundial. Tais desafios também impactam o âmbito das corporações que, cada vez mais, se vêem impelidas a buscar formas de incorporar às suas estratégias de negócios questões como a sustentabilidade, a preocupação com as mudanças climáticas e ações voltadas à redução das emissões. Este trabalho constitui um estudo exploratório sobre ações empresariais estratégicas na região da Amazônia brasileira, com destaque para as iniciativas voltadas à sustentabilidade e à redução das emissões de GEE. A escolha da Amazônia se justifica pela riqueza de sua biodiversidade, pela grandeza de sua extensão territorial e por seu grande potencial para contribuir com a redução de emissões. A corporação escolhida para o estudo de caso foi o Grupo Orsa, que tem unidades produtivas na Amazônia e incorpora ao seu modo de fazer negócios o uso sustentável da floresta e o respeito às comunidades locais, praticando o manejo florestal sustentável, a preservação de áreas florestais nativas, além de promover diversas ações sociais voltadas ao aprimoramento da qualidade de vida da população local, inclusive incentivando a geração de renda a partir de produtos não madeireiros.

Abstract

The challenge of the increase in greenhouse effect gases (GEG) concentration, the current state of knowledge of this phenomenon and other facts related to climate change warn us on the emergency in implementing global actions. This has an impact on the economic sphere. Nowadays, companies have to find new strategies in order to adapt their businesses to this new environment, and include new considerations into their strategy such as sustainability, climate change orientation and reduction of GEG emission. This study focuses on business strategic actions in the Amazonian area in Brazil aiming at sustainable practices and reduction of GEG emissions. The choice for Amazonia is justified by the risks for its biodiversity, the dimension of its territory and its great potential for contributing to the reduction of greenhouse effect gases emissions. In this article, we focus the Grupo Orsa. This company has several unities of production in Amazonia and has developed its business in the respectful use of the forest and natural resources. They develop a sustainable forest management, protecting the native forests and extracting the trees in a responsible way. They are also particularly involved in favor of the local population promoting social actions for the improvement of life quality in that area, and transmitting them knowledge for the administration of their non woody products.

1. Introdução e justificativa

1.1. A região Amazônica

A Amazônia está em uma área que compreende uma superfície aproximada de 5.217.423 Km², representando 61% do território brasileiro e abrangendo mais de 2/3 das fronteiras terrestres do país. Segundo estudo do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA, 2005, p.201) a Amazônia Legal abrange os estados da macrorregião Norte (Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins), o estado do Mato Grosso (macrorregião Centro-Oeste) e parte do Maranhão (macrorregião Nordeste).
A designação Amazônia Legal é fruto de um conceito político e não de um imperativo geográfico, pois foi criada para fins de planejamento econômico da região.
O IPEA calcula que toda região da Amazônia sul-americana equivale a 1/20 da superfície da Terra, possui 1/5 de toda a água doce e 1/3 das florestas tropicais do globo, sendo que 63,4% de sua área estão sob soberania brasileira. Em contrapartida, abriga apenas 3,5 milésimos da população mundial.\Por sua grandeza territorial e tamanhas riquezas naturais, a Amazônia brasileira adquiriu um novo significado no contexto da revalorização da natureza e da tomada de consciência sobre as ameaças do aquecimento global, ganhando visibilidade internacional e, tornando-se foco de interesses múltiplos e conflitantes. Segundo os pesquisadores do IPEA, no estudo acima referido, tais interesses devem ser administrados para que se possa conceber e implementar um novo modo de produção e de uso do seu patrimônio natural, capaz de promover o desenvolvimento e garantir a soberania brasileira sobre a região. (IPEA, 2005)
Associada ao problema de conflito de interesses, acima descrito, está a questão da diminuição do papel dos governos nas sociedades ocidentais modernas em favor de um maior espaço para o livre mercado. Assim, se por um lado os agentes da iniciativa privada podem atuar livremente de acordo com seus interesses, sem as restrições outrora impostas pelo intervencionismo estatal, por outro lado, se vêem obrigados a assumir uma série de responsabilidades, que advêm da ausência da atuação dos governos. As empresas passam a ter de responder às necessidades dos cidadãos, atuando como verdadeiros agentes de desenvolvimento e fortalecendo a chamada responsabilidade social corporativa.
Nesse contexto, é de se imaginar que todo e qualquer empreendimento que exista na Amazônia, ou que pretenda se instalar na região, deva implementar ações voltadas ao desenvolvimento social.

Além da questão social, em atividades econômicas que atuam em regiões de florestas nativas, as discussões sobre a sustentabilidade devem necessariamente considerar a necessidade de mecanismos de reinvestimentos compensatórios na área de meio ambiente, naqueles pontos mais afetados (MEDEIROS, 1994, p. 241)

1.2. Justificativa

Os desafios colocados pelo aumento das emissões de gases de efeito estufa (GEE), o aquecimento global e outros temas relacionados, sob a denominação de mudanças climáticas, tornam de extrema importância a discussão ampla e participativa em todas as esferas da sociedade e principalmente na academia
Isto se torna ainda mais relevante, quando se trata de um país que possui a maior riqueza em estoque de carbono devido à presença de abundantes florestas e que, ao mesmo tempo, registra um percentual de emissões de GEE da ordem de 75%, causadas pelo desmatamento e queimadas de mata nativa da floresta amazônica.
Segundo estudo do IPEA, a Amazônia é um dos três grandes eldorados naturais contemporâneos. Os outros dois, os Fundos Marinhos e a Antártida, são espaços não regulamentados juridicamente e partilhados entre as potências.

Desta forma, para que seja possível garantir a soberania da Amazônia brasileira e preservar a riqueza de biodiversidade que lá se encontra, acredita-se necessário estudar processos que contribuam para o desenvolvimento da região (econômico, social e ambiental) e para promover a divulgação e a publicação de tais estudos.
Este trabalho se justifica tendo em vista a atualidade e a relevância do tema até aqui exposto. Embora este não tenha a pretensão ou mesmo a possibilidade de ser um estudo exaustivo, acredita-se que, como estudo de caso possa agregar muito a tomadores de decisão, tanto na esfera pública quanto na privada. Espera-se também que traga elementos úteis para possibilitar avanços de possíveis trabalhos futuros.

Corroborando este pensamento, Brüseke (1994, p.14) afirma que:

“o contraste entre teoria e empiria nos trabalhos mais recentes sobre a Amazônia não vem por acaso; ele é a expressão do movimento de procura de explicações que as teorias conhecidas não mais fornecem. Qual é a contribuição da teoria de dependência para o entendimento da destruição da floresta tropical? Este problema, junto com a desestruturação socioeconômica, são, nessa grandeza, problemas novos e integrados em estruturas dinâmicas com uma complexidade crescente, que as teorias conhecidas não mais alcançam.”

2. Objetivos do artigo

O principal objetivo do artigo é fazer uma análise exploratória das estratégias empresariais do Grupo Orsa com relação a contribuições para sustentabilidade na Amazônia, enfatizando-se iniciativas que favoreçam a redução de gases de efeito estufa (GEE).

Os objetivos específicos da pesquisa são:

  • Compreender as visões, valores e funcionamento do Grupo com relação à sustentabilidade.
  • Compreender porque Amazônia representa uma oportunidade para o Grupo (recursos naturais, preços de desenvolvimento e de produção) e como foi o início da atuação do grupo na região.
  • Compreender como o grupo consegue conciliar sustentabilidade e resultados financeiros positivos, sendo competitivo e mantendo ações sustentáveis, ainda que esta postura implique em aumento dos custos de produção.
  • Verificar a aderência das ações e valores do grupo com relação aos conceitos de sustentabilidade e Triple Bottom Line.
  • Verificar a real contribuição da empresa para a redução das emissões de GEE (MDL, Voluntário ou REED) e para o desenvolvimento humano da região.
  • Determinar os desafios enfrentados pela empresa com relação às particularidades de Amazônia.

3. Referencial Teórico

3.1. Desenvolvimento sustentável e a responsabilidade social corporativa

O termo “desenvolvimento sustentável” ganhou atenção mundial em 1987, com o “Bruntland Report: Our Common Future” apresentado pela ONU. Este conceito, cada vez mais em voga nos dias de hoje, foi apresentado como sendo “o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades” (BRUNDTLAND REPORT, 1987).

Dessa forma, ao pensar na aplicação desse conceito às empresas deve-se buscar a convergência entre o lucro e o bem comum. O investidor precisa garantir que terá retornos satisfatórios, mas deve estar atento aos interesses de todos os stakeholders envolvidos em sua atividade. Para Savitz, é necessário “refletir sobre a sustentabilidade como território compartilhado pelos interesses da empresa (os dos stakeholders financeiros) e pelos interesses do público (os dos stakeholders não financeiros)” (SAVITZ, 2007).

Outro conceito que ganhou força no dia a dia das empresas e nos meios acadêmicos é o de Responsabilidade Social Corporativa. Este conceito tem implícito um questionamento sobre o papel ético das empresas. Argumenta-se que as empresas devem devolver à sociedade benefícios que possam compensar eventuais externalidades negativas advindas de sua atuação. Portanto o conceito está relacionado com a extensão do papel das empresas para além de objetivos meramente econômicos.

Para começar a pensar em responsabilidade social de maneira estratégica, o primeiro passo é olhar a cadeia de valor da empresa e descobrir que aspectos sociais e ambientais sofrem maior impacto de suas atividades.

Conforme foi descrito na introdução deste trabalho, uma parte significativa das sociedades está passando por um processo de diminuição da atuação dos governos, que não apenas deixam de interferir na esfera econômica como acabam por transferir responsabilidades sociais e de cidadania para a iniciativa privada.
Embora seja verdade que os projetos sociais são atrativos para o marketing das empresas, eles estão fortemente relacionados com a postura ética das empresas perante seus stakeholders (funcionários, acionistas, clientes, fornecedores, comunidades, governo, sociedade). Justamente neste aspecto é que se diferenciam as empresas éticas, cuja postura é de compromisso com seus stakeholders, e aquelas que apenas mantêm um discurso vazio para fins de promoção de sua imagem.

De toda forma, a responsabilidade social possibilita pelo menos dois benefícios às empresas: a) diminui consideravelmente os questionamentos e dúvidas quanto à sua postura ética; e, b) possibilita se diferenciar no mercado competitivamente em função de ações sociais e, por conseguinte, almejar retornos financeiros. Tais benefícios certamente estão entre aqueles que movimentam a grande difusão das práticas de responsabilidade social nas empresas. (MENDES; VIEIRA; CHAVES, 2006)
As mudanças das expectativas da sociedade estão colocando novos desafios para os líderes de empresas e por consequência, estão mudando a natureza dos negócios e as relações sociais. (COLBERT; KURUCZ, 2007).

Machado Filho (2004) argumenta que “a ideia básica da responsabilidade social corporativa é que a atividade de negócios e a sociedade são entidades interligadas e não distintas. Portanto, a sociedade tem certas expectativas em relação ao comportamento e resultados das atividades de negócios”.

3.2 Triple Bottom Line (tripé da sustentabilidade)

Em 1994, John Elkington cunhou o termo “Triple Bottom Line”, o que significa que o sucesso da estratégia de uma empresa só é alcançado se houver um equilíbrio entre prosperidade econômica, qualidade ambiental e justiça social.

Este termo representa um novo paradigma para as empresas. Segundo esta visão, somente a empresa que pensar nestes três aspectos conseguirá subsistir no mercado competitivo.
Segundo Colbert e Kurucz (2007), as empresas estão dando cada vez mais ênfase no andamento de sua “sustentabilidade”, o que implica um foco simultâneo no desempenho econômico, social e ambiental.

Caminhar em direção ao tripé da sustentabilidade requer uma revolução nos negócios em pensar e agir em sete dimensões (“thinking in 7D”), sendo elas: mercado, valores, transparência, ciclo de vida tecnológico, parcerias, perspectiva de tempo e governança corporativa (ELKINGTON, 2001).

A noção de Sustentabilidade, com todas as controvérsias que ela possa conter e as atitudes que dela derivam, faz com que as empresas da atualidade não possam mais ignorar a necessidade de se posicionar sobre o tema. Sobretudo no caso das empresas que lidam diretamente com recursos naturais/ ambientais tudo que se refere à sustentabilidade passa a ter importância central.

3.3. Problemática da Amazônia

A região da Amazônia apresenta grande diversidade, não só ambiental (vegetal e animal) como sociocultural. Ela possui complexidades do micro ao macro, isto é, desde questões ligadas ao desenvolvimento social, inclusão das comunidades que extraem seu sustento da floresta, consciência ambiental do valor da floresta em pé, até questões globais ligadas ao relacionamento entre países de territórios vizinhos, bem como compromissos assumidos perante acordo entre países.

Pasquis (2003, p.1) reforça essa ideia ao afirmar que “esta região continente não é uma região homogênea e uniforme, mas sim um mosaico de ambientes e sociedades, dispostos um ao lado do outro”.

Apesar de muito heterogênea, a região amazônica apresenta alguns aspectos que a caracterizam, como por exemplo, ter clima quente e úmido, solo bastante pobre, com fina camada de nutrientes, grande parte dos animais viverem em copas de árvores, não ocorrendo animais de grande porte. Todos esses aspectos mostram o grau de especificidade ao se discutir os efeitos do desmatamento.

O desmatamento da floresta amazônica constitui um problema que ganha relevância internacional no contexto da preocupação com as emissões de GEE. No caso do Brasil, cujas emissões ficam em torno de 5% das emissões mundiais, grande parte é causada pelo desmatamento florestal.

Marcovitch (2006, p. 80) destaca o peso dos três mais conhecidos fatores de devastação da floresta amazônica: o avanço da soja, ação de madeireiros/ garimpeiros e grilagem de terras.
Os impactos ambientais do desmatamento de matas nativas e dos possíveis usos da madeira para produção industrial são elencados por Medeiros (1994):
A exposição do solo com as operações de desmatamento em florestas nativas e o preparo de solo para as florestas plantadas potencializam em grande escala a erosão hídrica e eólica, com significativa perda de nutrientes e do próprio solo.

A destruição das matas nativas piora as condições de vida das populações locais, pela eliminação das atividades extrativas de alimentos e matérias-primas nativas, não cria as condições para a absorção do excedente de mão de obra gerado, contribuindo para o êxodo rural e a favelização nos grandes centros urbanos.
A exploração de matas nativas em bases não sustentáveis provoca inexoravelmente uma depleção no capital natural representado pelo recurso natural finito floresta nativa.
A remoção da cobertura vegetal natural altera o estoque de Carbono imobilizado na biomassa vegetal, podendo acarretar um incremento líquido na quantidade de CO2 atmosférico, contribuindo para o aumento do efeito estufa global.

A floresta de eucalipto pode reduzir significativamente a produção de água de uma bacia hidrográfica, principalmente naquelas áreas de cobertura vegetal menos densa, como é o caso dos cerrados e campos.

A utilização de carvão vegetal nas usinas siderúrgicas provoca a geração e emissão de poluentes, tais como CO2, CO, particulados e deposição de pós e sólidos tais como escória e finos de carvão.

Além destes impactos, Marcovitch (2006, p.82) lembra que alguns cientistas levantam a suspeita de que possa estar ocorrendo um desmatamento seletivo da Floresta Amazônica. Trata-se de um tipo de corte que não atinge a floresta em bloco, atingindo apenas árvores nobres. Isto tornaria a devastação menos visível pelos satélites e aparelhos de sensoriamento remoto e, portanto, maior. No entanto, esta hipótese não ficou provada.

Tendo em vista as já mencionadas especificidades da Amazônia, em vários âmbitos (desde as riquezas naturais até os problemas sociais), as empresas que decidam atuar nesta região deverão estar cientes dessas especificidades e considerá-las ao definirem suas estratégias. É importante que tais empresas avaliem as reais possibilidades de implementarem negócios rentáveis, sim, mas que mantenham um compromisso com a sustentabilidade, com a não degradação ambiental, com o respeito às comunidades locais e, preferencialmente, com ações voltadas à redução das emissões de GEE.

4. Método de Pesquisa

Este trabalho constitui um estudo exploratório sobre ações empresariais estratégicas na região da Amazônia brasileira, com destaque para as ações voltadas à sustentabilidade e à redução das emissões de GEE.

Gil (1991, p. 46) afirma que, “um trabalho é de natureza exploratória quando envolver levantamento bibliográfico, entrevista com pessoas que tiveram (ou têm) experiências práticas com o problema pesquisado e análise de exemplos que estimulem a compreensão. Possui ainda a finalidade básica de desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias para a formulação de abordagens posteriores.”

As pesquisas exploratórias, segundo Gil (1991) visam proporcionar uma visão geral de um determinado fato.

Foi utilizado, portanto, o método pesquisa de estudo de caso com a finalidade de levantar e relatar a experiência do Grupo Orsa nessa região.
Segundo definição de Yin, “um estudo de caso é uma investigação empírica que: investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos.” (YIN, 2005).

O autor afirma que o estudo de caso é uma técnica de pesquisa única para compreender fenômenos sociais complexos
Usou-se de instrumentos de coleta de fontes de dados primárias e secundárias: roteiro de perguntas e entrevista presencial, além de relatórios de sustentabilidade (2007), site, artigos científicos etc.

5. Estudo de Caso

5.1. O Grupo Orsa

Para este estudo de caso escolheu-se o Grupo Orsa, pois a corporação inclui no próprio modo de fazer negócios o uso sustentável da floresta e o respeito às comunidades nativas.
As informações e dados institucionais sobre o Grupo Orsa apresentados nesta seção foram obtidos a partir do sítio oficial da empresa na internet (www.grupoorsa.com.br) e com base no Relatório de Sustentabilidade do Grupo, para o ano de 2007.

O Grupo Orsa é uma das principais organizações brasileiras do setor de madeira, celulose, papel e embalagens. Com 100% de capital nacional, o Grupo mantém sua força com base na integração de suas quatro empresas – Orsa, Celulose, Papel e Embalagens, Fundação Orsa, Jari Celulose e Orsa Florestal -, que atuam em sinergia e sob uma mesma filosofia.
Atualmente, o Grupo é um dos maiores produtores de chapas e caixas de papelão ondulado e papel para embalagem. É uma empresa 100% brasileira e ocupa um lugar de liderança no mercado nacional. Os produtos do Grupo são os únicos que têm 100% de certificação pelo FSC ((Forest Stewardship Council)).

História

  • 1981: O embrião do Grupo Orsa surgiu com uma pequena cartonagem, na cidade de São Paulo.
  • 1986: Foi iniciada a construção da primeira unidade industrial para fabricação de chapas e papelão ondulado.
  • 1990: A empresa comprou a unidade produtora de papel Kraftliner em Nova Campina, SP.
  • 1994: Início das atividades da Fundação Orsa.
  • 2001: A empresa assume o controle acionário da companhia do Jari Celulose S.A., fabricante de celulose em Monte Dourado, na fronteira dos Estados do Pará e Amapá. Neste mesmo ano, o Grupo inaugura a unidade fabril em Rio Verde, Goiás.
  • 2003: Fundação da Orsa Florestal, em relação com a ação da empresa na região do Jari.
  • 2009: O Grupo Orsa incorpora a empresa Ouro Verde Amazônia.

Atividades e produtos de cada empresa do Grupo

Orsa Celulose, Papel e Embalagens (OCPE)

A empresa tem uma unidade de produção na região de Manaus. Ela usa o papel das outras usinas do Grupo Orsa para fazer caixas de cartão e papelão, respeitando as particularidades da Amazônia.

Jari Celulose

A Jari Celulose fica na localidade de Munguba, em Almerim, no estado do Pará. A empresa se organiza em meio a 1,3 milhões de hectares de floresta amazônica e produz celulose de eucalipto. A empresa tem uma orientação internacional, com uma produção de 3% do volume mundial de celulose de eucalipto e com exportações feitas via duas unidades de marketing, em São Paulo e Londres. A política sustentável da Jari Celulose consiste em renovar os recursos de eucalipto com um viveiro que produz 16 milhões de novas plantas a cada ano. Eles preservam também os recursos naturais da floresta, com uma gestão racional das árvores, com uma compreensão especial do papel específico das espécies de eucaliptos no ecossistema da Amazônia. No Projeto Jari, a empresa realiza a compra antecipada de pequenos e médios produtores, para o cultivo da floresta, tendo como garantia a entrega do produto depois de alguns anos, sem alienar a propriedade dos produtores e com pagamentos desde o início do contrato. O Grupo fornece as mudas e dá assistência técnica para o plantio e manejo.

Fundação Orsa

A Fundação tem cinco eixos principais de ação:

  • Educação: Os projetos visam ao fortalecimento de políticas públicas destinadas às crianças e adolescentes até 18 anos. A Fundação organiza atividades educativas no diversos campos e gera parcerias com prefeituras, iniciativas privadas, ONGs e com as próprias comunidades. O objetivo é o desenvolvimento das crianças, com atenção aos aspectos físicos, psicológicos e sociais.
  • Saúde: As ações visam principalmente à nutrição, humanização do atendimento, oncologia infantil, saúde bucal e à dependência química, com vários programas.
  • Empregabilidade: A Fundação organiza a formação e qualificação profissional de adolescentes, jovens e famílias com o objetivo de fomentar a geração de trabalho e renda por meio da capacitação para o mercado de trabalho.
  • Empreendedorismo: A Fundação incentiva a atitude empreendedora em comunidades atendidas por seus projetos. Ela leva em consideração as potencialidades pessoais e regionais, a identidade cultural, as vocações produtivas locais e as tendências do mercado.
  • Promoção de direitos: A Fundação se compromete a fazer conhecer às comunidades seus direitos e deveres na sociedade. Em 2007, foi estrategicamente incorporada ao grupo para ser uma quarta companhia. Seu desafio é de se tornar sustentável e de criar interações entre o Grupo Orsa e a sociedade.

Orsa Florestal

Fundada em 2003, a empresa Orsa Florestal produz 13.040 m3 de madeira bruta, desenvolvendo o manejo sustentável de 545 mil hectares de florestas no Pará. A Orsa Florestal se preocupa em preservar 92 mil hectares com 26 tipos de árvores. A unidade está instalada no complexo industrial de Munguba e exporta seus produtos para a Ásia, América do norte e Europa.Ouro VerdeA Ouro Verde Agroflorestal foi a compra mais recente do Grupo Orsa. Sua principal atividade é a extração de castanha do Brasil, no Mato Grosso principalmente. O Grupo incorporou esta nova atividade porque ela apresenta complementaridade com a exploração da madeira e permite desenvolver a cooperação com as comunidades no Jari.

5. 2. Organização do Grupo

Governança Corporativa

O conselho de administração, que tem por objetivo garantir a transparência das decisões do Grupo, é formado por dois acionistas e dois conselheiros externos independentes, que procuram verificar se a estratégia empresarial está de acordo com a missão e os valores expressos pela empresa.

Recursos humanos

Hoje, o Grupo Orsa é responsável por 9.000 empregos diretos e indiretos. O grupo desenvolve programas voltados ao crescimento pessoal e profissional dos seus funcionários, buscando melhorar as condições de trabalho nos processos produtivos e atender às necessidades dos familiares dos funcionários.

Dados econômicos e resultados financeiros

Em 2007, a empresa apresentou um resultado bruto de R$ 1.245 bilhões.

Prêmios de responsabilidade social

Durante os anos passados, o Grupo Orsa recebeu muitos prêmios em reconhecimento ao seu comportamento sustentável, tanto pelas ações relacionadas ao meio ambiente quanto pelas ações endereçadas às pessoas que trabalham na empresa.

5.3. Análise e discussões

Nesta seção, são apresentados os resultados do roteiro de questões aplicado aos representantes do Grupo, em entrevista presencial realizada em 10/06/2009, na sede do Grupo Orsa, em Alphaville. A orientação geral dada aos entrevistados foi que, ao responderem às questões, tivessem em mente as iniciativas da corporação que mais estivessem relacionadas à sustentabilidade e à redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE). A seguir, encontram-se as respostas dadas sobre cada um dos temas presentes no questionário.

Primeiras ações na Amazônia

Ao serem perguntados sobre a decisão de irem para a Amazônia e o histórico da implantação das atividades, os entrevistados destacaram que o Grupo Orsa é ousado. Explicaram que ele cresceu basicamente adquirindo projetos que não davam certo, comprando projetos praticamente quebrados e transformando-os em algo economicamente viável.
No caso do projeto Jari, que havia sido o grande sonho do senhor Ludwig, depois de passados mais de vinte anos de prejuízo, o senhor Sérgio Amoroso (acionista do Grupo), teve a oportunidade de comprá-lo, incorporando-o ao Grupo em 2000.

Quando o senhor Sérgio foi para a Amazônia, ele não olhou somente para a oportunidade de ter uma fábrica de celulose. Ele visualizou um conjunto: a preservação do meio ambiente, o movimento de projetos sustentáveis, o manejo sustentável de floresta nativa, o trabalho com comunidades, a oportunidade para a atuação da Fundação Orsa na região… Ele foi para lá com o intuito de construir um projeto que mudasse a região. Seu sonho era transformar aquilo em um modelo de sustentabilidade para a Amazônia, mostrando que a única maneira de se manter aquela floresta em pé é tendo projetos sustentáveis lá dentro, que respeitem o meio ambiente, que preservem a biodiversidade. Ele tinha a consciência de que a floresta contém uma enorme riqueza e que deve ser explorada de forma responsável, para que a atividade seja sustentável.

A decisão de ir para a Amazônia, sem dúvida, não foi uma decisão tradicional de negócios que um grupo empresarial tradicional tomaria. Além das perspectivas de fazer bons negócios, houve um ingrediente de empreendedorismo, de vanguarda, de sonho, de projeto. Tudo isto sem perder de vista a importância da rentabilidade. Ou seja, a decisão de empreender na Amazônia tem este ingrediente abstrato, que está muito intimamente ligado à decisão do senhor Sérgio (Amoroso).

O projeto Jari foi adquirido inicialmente como uma indústria de celulose, mas hoje ele tem uma diversificação das atividades, sendo que uma atividade muito importante é o Manejo Florestal Sustentável Certificado, que antes não existia. Anteriormente, a área de propriedade do Grupo já tinha este mesmo tamanho (1,3 milhões de hectares), mas havia uma área grande que, lá na década de 70, havia sido desmatada para se plantar algumas espécies para produção de celulose. Agora o Grupo inicia também a produção de produtos não madeireiros.
Os representantes da empresa frisaram que, mesmo em outro contexto, que era o da promoção do desmatamento para a ocupação do território, por questões de segurança nacional e de integração regional, todas as atividades que foram feitas no Jari, até hoje, sempre foram legais. Este é um aspecto importante. Considerando-se que o Grupo tem uma propriedade de 1,3 milhões de hectares e apenas cento e poucos mil hectares estão “abertos” (desmatados), ainda se tem uma proporção muito abaixo do que é permitido pela lei, que são 20%. Então mesmo com a mudança da lei, que se tornou bem mais severa, toda operação da Jari continuou absolutamente legal.

O Grupo tem o Certificado FSC, não só no projeto de manejo, mas também nas plantações de eucalipto. E para que uma empresa seja certificada, a condição número um é ter passivo ambiental zero. Segundo afirmaram, a Jari hoje é uma localidade com passivo ambiental zero, sendo a única empresa do Brasil, talvez a única no mundo, com 100% de certificação para todas as atividades.

Sobre as atividades do Grupo

O carro chefe do Grupo ainda é a produção de celulose, com plantação de eucaliptos. Mesmo na Amazônia. Dentro de uma proporção de 1.300.000 hectares, há cerca de 120.000 hectares destinados ao plantio de eucalipto. Isto colocado em uma proporção representa menos de 10% da área total. Os outros 90% de florestas são preservados. Sobre estes hectares restantes, o Grupo iniciou o Projeto de Manejo Sustentável da floresta nativa.

Investimentos nos projetos

No caso da Jari, desde que o Grupo assumiu, já foram investidos mais de 250 milhões de Dólares na atividade de celulose de eucalipto, com objetivo de torná-la uma atividade sustentável. Atualmente, o Grupo continua investindo em melhoramento genético do eucalipto, devido à necessidade de adaptação da espécie ao clima e às condições do solo, etc.

Quanto ao projeto de Manejo Sustentável da Orsa Florestal, para alcançar a dimensão em a ele chegou, foram investidos de 40 a 50 milhões de Reais. Hoje a Orsa Florestal não requer mais investimentos, ela já é um projeto que se sustenta e já está dando resultados, remunerando os investimentos feitos anteriormente.
No caso da Ouro Verde, a projeção de investimento do grupo, para o próximo ano, é de cerca de dois milhões de dólares, só em infraestrutura.

Complementaridade das atividades do Grupo Orsa

Afirma-se que quando o grupo comprou a Jari Celulose, se preocupou com a pobreza, a falta de oportunidades, a educação deficiente e os aspectos sanitários precários da região. Então, começaram as atividades da Fundação Orsa, para desenvolver a educação das crianças e democratizar o acesso aos serviços de saúde. Depois da instalação de programas de formação profissional para os jovens, foi criada a Orsa Florestal, um projeto de manejo sustentável em matas nativas tropicais, com a meta de dar trabalho aos habitantes do Jari.

Sobre o Manejo Florestal

Na visita ao Grupo Orsa, os representantes da companhia explicaram como funciona o manejo florestal da madeira comercial, vendida para a fabricação de móveis e outros itens. Eles esclareceram que, em uma área de um hectare de floresta nativa, extraem no máximo 30 m³, em um ciclo de 30 anos. Em média, o volume comercial que já está no ponto de corte, em uma área de um hectare, é de 120m³ de madeira. Retiram apenas 30 m³ e só retornam a uma área já explorada após 30 anos.
Em uma área que tenha 500 mil árvores em ponto de corte, há árvores pequenas, médias e árvores gigantescas. Mas, acima de 50 cm de DAP (diâmetro da altura do peito) há aproximadamente 120 m³ de madeira. Os 30 m³ que são extraídos significam, em média, de três a quatro árvores, em um total de 200 a 300 árvores prontas a serem retiradas.
Os entrevistados argumentaram que as árvores têm um ciclo de vida e que o manejo consiste em antecipar um pouco este ciclo natural, retirando a madeira, antes que a árvore caia e morra. A partir do momento em que se antecipa um pouco este ciclo, se permite que as árvores menores, que estavam escondidas na sombra e não conseguiam crescer, possam ter seu lugar ao sol.
Com este critério dos 30 m3, eles demoram entre três e quatro ciclos de 30 anos para retirar aquilo que dizem já estar pronto para ser retirado hoje. Então, daqui a 120 anos haverá muitas árvores que, hoje não têm 50 DAP, mas que têm 30 DAP e que não haviam entrado neste cálculo. Considerando três ou quatro ciclos de 30 anos, em 120 anos, os entrevistados acreditam que terão um volume até maior do que 120m3.

O Grupo já tem experimentos na Jari que estão com 27 ou 28 anos, nos quais foram feitos uma série de manejos, retirando 30; 40; 50 e 60 m³. Daqui a dois anos, quando fecharem o ciclo de 30 anos, pretendem lançar um livro, falando de toda a técnica de manejo e demonstrando as conclusões, com base na observação empírica. Estes experimentos têm o acompanhamento de pesquisadores da EMBRAPA.

Os entrevistados salientaram que esta estratégia toda da certificação e do manejo florestal embute um critério grande de precaução, porque certamente ninguém tem a informação exata de como será esta floresta daqui a 100 anos. A técnica de manejo é uma coisa muito recente. O projeto Jari é, provavelmente, a empresa que tem os dados mais antigos do Brasil e talvez do mundo sobre florestas tropicais. E nós estamos falando de um experimento de 30 anos. O modelo mais antigo de manejo está completando apenas 30 anos. Imaginando-se um hectare como sendo um quarteirão de cidade, os 30 m³ representariam somente três a quatro árvores. Em alguns casos, uma única árvore já chegaria aos 30 m³. Retira-se uma arvore e fecha-se aquele quarteirão por 30 anos. É uma medida de extrema precaução.

E, ainda, dentro dessas medidas, existem restrições para cada tipo de árvore que se pode cortar. Quantos indivíduos dessa espécie existem nesse hectare? Existe, ao menos, mais um indivíduo que deixe sementes? Esta pode ser a espécie mais valiosa do mundo, mas se for o único indivíduo da espécie, ela não será retirada, para que possa viver e deixar sementes.
Cada uma das árvores inventariadas recebe uma plaquinha de identificação, com GPS. O Grupo tem o mapa com cada árvore identificada no Jari. Assim é possível saber exatamente onde cada árvore está e ter informações específicas como: qual a sua espécie, idade, altura, diâmetro, e qual o tipo de madeira. O funcionário que vai recolher a árvore, já vai orientado e já sabe até para qual lado ela deve cair, para não agredir as outras. É um processo extremamente sofisticado.

Do ponto de vista dos entrevistados, a estratégia do manejo representa a melhor alternativa econômica para a floresta em pé.

Como conciliar sustentabilidade e lucros?

Sobre este tema, os entrevistados afirmaram que é preciso reconhecer que todo este nível de precaução engessa o investidor. Do ponto de vista estritamente econômico, seria melhor se pudessem extrair mais metros cúbicos por hectare. Afinal eles criaram toda uma estrutura, fizeram o inventário, colocaram tratores, abriram estradas… Para irem até lá e pegarem uma única árvore… É importante compreender que aquela área de floresta tem um custo de oportunidade potencial. Um custo de oportunidade potencial é fazer manejo florestal, outro é derrubar tudo e criar gado, outro é plantar soja. Ao avaliar suas oportunidades, o empresário trabalha com todas as possibilidades.Argumentaram ainda que, por lei, o Grupo Orsa teria direito a desmatar 20% de suas florestas. Mas não o faz. E quando se colocam os investimentos na ponta do lápis e não se faz uma projeção de muito longo prazo (mais de 30 anos), é mais vantajoso plantar soja ou criar gado, tendo em vista um nível tão alto de restrições.

Neste ponto, os representantes da empresa colocaram a seguinte discussão: “Qual é a valorização que a sociedade dá para produtos produzidos sob essas condições, preservando um patrimônio que é de todos? Qual é a agregação de valor, o prêmio que o Grupo Orsa recebe por só trabalhar com madeira certificada? A pergunta é: será que a sociedade está valorizando um trabalho fenomenal que uma empresa privada está fazendo? Lá na ponta, será que o consumidor está pagando mais por uma madeira com selo FSC, que se enquadra em todos esses condicionantes?”

Produtos não madeireiros

Atualmente, há uma diversificação dos negócios do Grupo. Existe uma empresa dentro da região do Jari que trabalha com celulose, extraindo celulose de eucaliptos; há outra empresa do grupo que trabalha com produtos florestais madeireiros, produzindo madeira serrada certificada, principalmente para o mercado de exportação. E, agora, o Grupo começa a fomentar outra atividade na Amazônia, por intermédio da Ouro Verde, para trabalhar com produtos florestais não madeireiros. Neste empreendimento, serão produzidos itens derivados da castanha. Os produtos não madeireiros, como a castanha, têm benefícios óbvios. São extraídos da própria árvore e têm impacto baixíssimo: o fruto cai no chão e pode ser colhido. E ele volta a nascer todo ano. Outro dos objetivos do Grupo é começar a atuar em outras cadeias de produtos florestais não madeireiros, de maneira a possibilitar um aumento e uma regularidade de renda para as comunidades que vivem na floresta. Além da castanha o Grupo está trabalhando com estudos preliminares, para poder atuar, em 2010, nas cadeias produtivas do açaí e do cacau, que são produtos nativos da região. Com um portfólio maior de produtos não madeireiros, as comunidades têm uma renda maior, distribuída ao longo do ano, já que esses produtos têm safra. No primeiro trimestre se vende a castanha, no segundo se vende o açaí e assim por diante.

Sustentabilidade ambiental e resultados financeiros

Os representantes do Grupo Orsa que concederam a entrevista demonstram bastante familiaridade com os conceitos de “sustentabilidade ambiental” e “triple bottom line”. Eles enfatizaram que o Grupo, sem dúvida, tem esta visão integrada. Destacaram que quem vai para a Amazônia não pode ir com uma visão só econômica. É uma filosofia de trabalho diferente, não é convencional. No modelo tradicional de gestão, baseado na lógica estrita de mercado, a empresa não iria.

É preciso entender que, na prática, há um descompasso em termos de rentabilidade entre os produtos madeireiros e os não madeireiros. Fatalmente os produtos florestais não madeireiros terão um retorno econômico menor. É importante esclarecer que são negócios menores, com limitações de escala, dependentes da sazonalidade, etc. O Brasil nunca vai ser um grande produtor de commodities de extrativismo da Amazônia. São atividades que, em termos de retorno, nunca chegarão perto da indústria da soja, do açúcar, do etanol, da madeira. Por outro lado, são negócios que têm importância estratégica do ponto de vista social, porque são geradores de renda para as comunidades nativas e que extraem seu sustento da floresta. No caso do Grupo Orsa, fica claro que esta escolha tem a ver com valores, princípios, idealismo…

Desafios

Perguntados sobre os maiores desafios enfrentados pela empresa na realização de ações voltadas para a sustentabilidade ambiental, os entrevistados elencaram vários desafios que já enfrentaram e continuam a enfrentar. O primeiro grande desafio foi o fato de serem pioneiros e estarem lidando com algo novo para o Grupo e novo para a indústria. Mencionaram também algumas dificuldades bem práticas, como a logística que é desfavorável para se operar na Amazônia. A questão da insegurança jurídica é outro problema quando se tem uma área grande na Amazônia, que requer todo o cuidado devido ao processo de certificação. O risco de invasão é contínuo e o Estado é ausente. Não há segurança de que o Estado vai garantir seu patrimônio privado. A mentalidade deveria ser de total respeito a um projeto como este, que se preocupa com a preservação… Mas, na prática, o Grupo lida o tempo inteiro com estas ameaças. Outro grave problema é que os órgãos públicos não trabalham com a devida seriedade. Muitas vezes, numa região dessas, o grupo privado faz a função do Estado, em todas as esferas; na educação, na saúde, na infraestrutura. Por isto o aparato de caráter social que tem o Grupo Orsa no Jari é muito grande.

Outro desafio, este mais ligado ao mercado, se refere à conquista da preferência do consumidor. Por exemplo, em um momento de crise econômica, como esta atual, até onde vai a disposição do cliente para pagar um preço mais alto por uma madeira certificada?

Lições, Aprendizados

Um dos aprendizados se refere ao desafio da substituição das funções do Estado. É um problema inevitável. A empresa que quiser estar lá, vai precisar atender as funções do Estado. Não adianta achar que em curto prazo o Estado vai prover esses serviços de forma minimamente decente para as pessoas. Para se ter um negócio, é necessário ter pessoas qualificadas. Como é possível atrair recursos humanos para o local se não há condições mínimas, em termos de saúde, educação, qualidade de vida?

Mas se o Estado não cumpre seu papel, a empresa se vê obrigada a cumpri-lo. O projeto já tem uma cidade praticamente privada: clínicas médicas privadas, apoio a escolas; Escola da madeira, formação profissional. A empresa inclusive oferece, como um benefício, o pagamento da escola particular para os filhos dos funcionários, já que não há escolas públicas. Só para se ter uma ideia, o Jari hoje é um projeto que tem aeroporto próprio, linhas ferroviárias próprias, novas estradas e ramais.

Iniciativas específicas da empresa voltadas para a redução da emissão GEE

O grupo contratou uma consultoria que fez um levantamento pormenorizado de todas as possibilidades de geração de créditos de carbono, tanto por MDL, quanto no mercado voluntário. Agora, estão iniciando uma conversa com outra organização, para fazerem uma avaliação de potencial de créditos de carbono por desmatamento evitado, por REED.

Não há um projeto operando hoje, mas o Grupo está avaliando possibilidades e pesquisando o tema, buscando gente especializada e contratando consultorias. Inclusive, já existem resultados preliminares de estudos feitos. Já se tem uma estimativa quantificada de quanto seria. O que é preciso agora é colocar em um projeto de crédito de carbono, seja ele de MDL, créditos de carbono, mercado voluntário ou desmatamento evitado. É um projeto para um futuro próximo utilizar este levantamento que já existe, para saber quanto o Grupo já está economizando. Há projetos grandes, em termos de MDL, com mais de 200 mil toneladas de carbono. Caldeiras com 500 mil toneladas de CO2.

Os entrevistados consideram que a atividade do Grupo é economizadora de carbono porque trabalham com a manutenção das árvores, evitando as emissões de carbono. É diferente do caso da soja e da pecuária, que requerem a extração da massa florestal, gerando grandes emissões de Gases de Efeito Estufa. Por isso, em seu ponto de vista, é extremamente necessário que haja uma rentabilidade adicional para quem pratica o manejo florestal sustentável, um incentivo econômico, relacionado à questão do carbono. Assim, o negócio se torna mais rentável e pode vir a conseguir equiparar margens com outras atividades potenciais (gado e soja por ex.).

Destacaram ainda que, em uma floresta com uma área nativa fixa em pé, as árvores morrem e vão apodrecendo, gerando o gás metano, que é um gás de efeito estufa 23 vezes mais prejudicial ao aquecimento do que o CO2. Ao evitar que as árvores morram e apodreçam, evita-se uma grande emissão de CO2 porque essa árvore que iria morrer se tornou uma mesa, aumentando seu ciclo de vida em 30, 50, 100 anos.

Outras iniciativas poupadoras de carbono

O manejo florestal gera, além da madeira, resíduos orgânicos que podem ser queimados na caldeira, para a geração de energia elétrica, a partir de biomassa. Ao se utilizar esta biomassa, evita-se ou diminui-se a queima de óleo combustível, carvão mineral e coque de petróleo, todos combustíveis fósseis, muito poluentes e com impacto direto para a emissão de gases de efeito estufa.

Há aproximadamente 15 dias, o Grupo concluiu a construção de um galpão enorme feito só pra proteger a biomassa da chuva, evitando que ela fique molhada. Só com esta medida, espera-se um aumento de eficiência lucrativa da biomassa. O simples fato de se manter a biomassa seca evita que a caldeira tenha que queimar água, antes de queimar a madeira, evitando a perda de eficiência na geração. Uma simples medida de redução da umidade da biomassa gera uma maior eficiência. Em consequência, se economiza em gás de petróleo. Este é um exemplo típico de que uma medida relativamente simples, embora com um investimento elevado, pode gerar créditos de carbono em um futuro próximo.

Visão da empresa sobre a concessão a grupos privados de áreas de preservação

Os entrevistaram afirmaram ser favoráveis a esta opção, desde que seja aplicado um manejo sustentável da forma como eles o entendem. Com certificação. Alertaram que, se esta concessão ocorrer no modelo tradicional, será uma tragédia, será devastação com o carimbo do Estado, com aval público. Caso estas concessões sejam feitas sem certificação, que parece ser o que vai acontecer, é o inicio do fim. No entanto, se for adotado o modelo que o Grupo já pratica, eles estão seguros de que este é o melhor caminho para conseguirmos manter a floresta em pé.

6. Conclusões

Um dos intuitos deste trabalho foi verificar a correspondência entre a comunicação do Grupo sobre suas ações sustentáveis e suas práticas, procurando entender o grau de compromisso da empresa (em termos morais, de emprego, em termos econômicos, com relação às comunidades locais). Na entrevista presencial, na sede do Grupo Orsa, foi possível verificar a existência de coerência entre o discurso oficial do Grupo, divulgado na imprensa, e as visões de mundo, impressões e ideais expressados pelos entrevistados, durante a conversa.Oficialmente a empresa expressa como visão o desejo de “estabelecer uma sociedade sustentável, que promova o bem-estar de todos, sem comprometer as gerações futuras, buscando o equilíbrio no relacionamento entre pessoas, ambiente e negócios, sem desconsiderar as características locais e as especificidades de cada povo”. Isto inclui multiplicar parcerias com os diversos agentes da sociedade. Como filosofia, o Grupo Orsa afirma que deseja praticar suas atividades de negócios com a consciência de seu papel na transformação da sociedade. O desafio que o Grupo se coloca é desenvolver “ações economicamente viáveis, socialmente justas e ambientalmente corretas”. Faz parte da filosofia do Grupo a preocupação com a promoção do desenvolvimento econômico, mantendo-se o respeito às limitações ecológicas do planeta e a visão global sobre as consequências de sua atividade florestal. O Grupo destina 1% do seu faturamento bruto para projetos socioambientais.O que é muito interessante sobre o Grupo Orsa é o próprio modo original de se fazer negócios. Eles têm consciência de que suas atividades, pela própria natureza, têm grande impacto ambiental e social e, a partir desta consciência, desenvolvem várias ações no sentido de mitigar as externalidades negativas e realizar ações propositivas que agreguem valor às suas atividades e aos stakeholders. Isto é verdade no caso no manejo florestal certificado, no caso da restrição da área de exploração da celulose (mantendo os níveis de desmatamento inferiores aos permitidos por lei) e nas diversas ações sociais empreendidas pelo Grupo (por meio da Fundação Orsa e outras unidades) e que beneficiam funcionários, comunidades das áreas impactadas por sua produção, não perdendo de vista os resultados econômicos.

Limitação do trabalho e sugestão para futuras pesquisas

É importante reconhecer que uma das limitações deste estudo foi a impossibilidade de conhecer as ações do Grupo Orsa in loco, o que proporcionaria averiguar: a dimensão dos empreendimentos, especificidades de sua atuação, alcance das iniciativas, público beneficiado e impactos.
Sugere-se para futuras pesquisas aprofundar o escopo desta pesquisa, realizando o estudo de campo in loco.

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